O Vasco e a 777, separadamente, negociaram com José Roberto Lamachia a venda da SAF. Lamachia é o proprietário da Crefisa e esposo da presidente do Palmeiras, Leila Pereira. Porém, o empresário desistiu da operação devido a pressões internas no clube alviverde.
Essa negociação destaca a falta de regulamentações e regras nas competições do futebol brasileiro.
Embora exista a Lei Pelé, que proíbe que uma empresa ou indivíduo controle ou tenha maioria acionária em dois clubes no mesmo campeonato, advogados consultados pelo blog acreditam que essa restrição se aplicaria também a cônjuges, como Leila e Lamachia, levantando assim controvérsias sobre o assunto.
A Lei Pelé esteve perto de ser revogada pela Lei Geral do Esporte, mas foi mantida pelo Congresso ao derrubar vetos presidenciais.
No entanto, é importante ressaltar que estas leis, juntamente com a Lei da SAF, são as únicas normas existentes para a aquisição de clubes. Após anos de debates, propostas e promessas, o futebol brasileiro ainda não foi capaz de estabelecer um código próprio para regular aspectos financeiros e de propriedade dos clubes.
A CBF e os clubes têm negligenciado um tema crucial no cenário corporativo e de negócios em que o futebol se transformou. No Brasil, é permitido deter vários clubes, gastar sem limites com prejuízos acumulados e não há controle efetivo sobre os compradores dos clubes.
Um exemplo é a 777 Partners e sua iminente falência no exterior, que está enfrentando dificuldades para adquirir o Everton. No Brasil, a empresa entrou sem ser fiscalizada por órgãos esportivos, contando apenas com a análise realizada pelo Vasco.
Na Europa, a questão da propriedade de múltiplos clubes está em destaque. A UEFA impôs condições para que o Girona, ligado ao grupo City, participasse da Champions League ao mesmo tempo que o Manchester City. Provavelmente, o grupo terá que vender parte das ações ou criar um time independente. As transações entre clubes do mesmo grupo também estão sob escrutínio.
O Manchester City, por exemplo, enfrentou acusações da Premier League por violação de mais de 110 regras financeiras. Em todas as principais ligas europeias, existe o Fair Play Financeiro.
Embora esses sistemas não sejam perfeitos e possam permitir brechas, ao menos há regras estabelecidas.
No Brasil, o cenário é totalmente diferente, onde a falta de regras permite atrasos de salários, gastos descontrolados e a acumulação de clubes. A regra do Fair Play Financeiro já foi elaborada e arquivada na CBF, faltando apenas a vontade política para implementá-la. Enquanto isso não acontece, as SAFs estão fadadas a serem instrumentos de um capitalismo predatório, prejudicando tanto os torcedores quanto a credibilidade do produto futebolístico.
Fonte: Coluna Rodrigo Mattos – UOL