A Administração Judicial conjunta, encarregada do processo de recuperação judicial do Vasco, se manifestou na última sexta-feira sobre o pedido do clube para realizar um empréstimo de até R$ 80 milhões. O parecer destaca a urgência do financiamento para a continuidade das operações, porém, aponta diversas lacunas que precisam ser sanadas antes que a Justiça tome uma decisão.
Em petição direcionada à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, o clube solicitou autorização para um financiamento na modalidade DIP (Debtor in Possession), com um valor máximo de R$ 80 milhões. De acordo com o documento, esses recursos serão destinados exclusivamente para despesas operacionais, incluindo pagamento de salários, fornecedores essenciais e obrigações trabalhistas e fiscais durante a recuperação judicial.
Vasco x Cruzeiro, bandeira do Vasco, São Januário — Foto: Tébaro Schmidt
No parecer da Administração Judicial, é mencionado que “a operação se mostra estruturalmente deficitária”, respaldado por relatórios mensais apresentados que ilustram a situação. Um exemplo é dado com os dados de março de 2025, quando a Vasco SAF iniciou o mês com um saldo de caixa de cerca de R$ 59 milhões, que despencou para R$ 17 milhões em agosto do mesmo ano. Esse cenário expõe, de forma evidente, a rápida diminuição das reservas financeiras, ressaltando a urgência de ações efetivas para restaurar o equilíbrio econômico-financeiro.
Apesar de reconhecer a necessidade do financiamento, a Administração Judicial observou que o Vasco não apresentou um plano detalhado para o uso dos recursos, uma exigência constante no contrato de crédito. Além disso, como a operação envolve 20% da SAF como garantia, é necessário o aval do Conselho Deliberativo do clube, conforme seu estatuto.
Além disso, foi ressaltado que falta um laudo econômico-financeiro que avalie o valor da participação acionária de 20% oferecida como garantia, o que dificulta uma análise precisa sobre a relação do empréstimo de 80 milhões com as ações da SAF. Assim, o documento também solicita uma avaliação independente, com valores atualizados, para garantir transparência, proporcionalidade e preservação do patrimônio da associação.
Recentemente, em entrevista ao ge, Felipe Carregal, vice-presidente jurídico do Vasco, destacou que o pedido de empréstimo já estava previsto na recuperação judicial como uma estratégia para equilibrar as contas, uma vez que o fluxo de caixa da SAF foi impactado pela 777 Partners. De acordo com Carregal, essa ação é crucial para evitar a venda de ativos importantes do clube, como o jovem Rayan, que tem se destacado na temporada. A venda do atacante já havia sido considerada nos relatórios entregues à Justiça no início do ano para a recuperação judicial.
O financiamento proposto inclui um período de carência de 12 meses e pagamento em até três anos, com juros fixos de 7% ao ano, além da correção pelo CDI. O Vasco afirmou que o acordo foi desenvolvido ao longo de meses com consultores especializados e que não afetará as principais fontes de receita do clube.
O Ministério Público se pronunciou contra a autorização do empréstimo, alegando que o contrato ainda não foi formalizado. O promotor Gustavo Adolfo Machado Cunha Lunz argumentou que os termos finais permanecem desconhecidos. A decisão a respeito do pedido está agora nas mãos da Justiça.
Fonte: ge