A carta, datada de 28 de março, foi compartilhada com os associados apenas na última terça-feira, um dia após a publicação de uma reportagem do ge sobre o tema. Na sua resposta, Belaciano afirma que nunca atuou como advogado do Vasco e que não esteve envolvido nas negociações com credores. Ele também enfatizou que desconhece quaisquer acordos trabalhistas que tenham sido feitos pelo clube para renegociar dívidas com condições mais vantajosas do que as do mercado.
Entretanto, a resposta não convenceu os signatários da carta, que prometem continuar pressionando por uma comissão de inquérito e mencionam uma entrevista dada por Belaciano ao ge em 10 de janeiro, onde ele detalhava o plano e as negociações que estava liderando no clube.
Sede da Lagoa, onde se reúne o Conselho Deliberativo do Vasco — Foto: Tébaro Schmidt / ge
Alan explicou sua participação nas audiências mais recentes com a seguinte declaração:
“Fui solicitado pela Diretoria Administrativa do Clube a acompanhar os advogados da instituição devido à minha experiência na área (reconhecida, inclusive, pelos próprios requerentes), conforme estipulado no art. 99, II c/c o parágrafo único do art. 52 do Estatuto Social. Na função de preposto do Clube, esclareci os termos e benefícios da renegociação ao juiz quando solicitado.”
“Reitero que não participei da elaboração, negociação ou aceitação de qualquer acordo com credores. Vale destacar que tanto o CRVG quanto a Vasco SAF sempre estiveram acompanhados em juízo por seus respectivos advogados, conforme registrado em atas e procurações judiciais nos processos.”
Belaciano ressaltou que “o plano de reestruturação financeira foi completamente desenvolvido pelo renomado escritório Alvarez & Marsal”, com a colaboração de outros escritórios e de “executivos da Vasco SAF, vice-presidentes e diretores do CRVG”, baseando-se em “informações técnicas e dados específicos do Vasco”.
Ele defendeu o plano, afirmando que a reestruturação da dívida resultaria em um deságio total de 65%, ao contrário do que estava sendo praticado na gestão de Jorge Salgado. Também comentou sobre a opção da diretoria de Pedrinho de não aplicar deságio em uma série de acordos trabalhistas.
Veja mais trechos do documento:
Resposta de Alan Belaciano aos sócios — Foto: Reprodução
Resposta de Alan Belaciano aos sócios — Foto: Reprodução
Resposta de Alan Belaciano aos sócios — Foto: Reprodução
Resposta de Alan Belaciano aos sócios — Foto: Reprodução
Resposta de Alan Belaciano aos sócios — Foto: Reprodução
“Reveja sua postura”
Na resposta de 13 páginas, o advogado destacou a independência dos poderes do clube, não hesitando em criticar João Riche, presidente do Conselho Deliberativo do Vasco:
“Baseado nas informações fornecidas pela Secretaria do Clube, o ofício CD006 enviado por V. Sa. não só fere a independência dos poderes, como também viola gravemente o que está disposto no art. 76, II do Estatuto do Clube, assim como o art. 6º, II do RI do Conselho Deliberativo. Portanto, peço que reflita sobre essa situação e, em nome da harmonia e integridade de nossa instituição, reveja sua postura.”
Em outro trecho, Belaciano mencionou a inadimplência de 17 sócios que assinaram a carta, apresentando seus nomes e detalhando a suposta falta de pagamento. Ele solicitou à secretaria do clube para que “tome as devidas providências a respeito”. Também expressou surpresa ao observar que, entre os signatários, apenas três eram conselheiros.
“Lamentavelmente, parece que o amor desses ‘sócios’ é pela política corrupta que tem dominado os corredores de São Januário há décadas. Contudo, esses sócios estão com seus direitos associativos suspensos”, respondeu Belaciano.
Trecho da resposta de Alan Belaciano à carta dos sócios do Vasco — Foto: Reprodução
Relembre o caso
Em janeiro, o presidente do Conselho Deliberativo do Vasco, João Riche, enviou um ofício juntamente com uma carta assinada por associados que questionavam os critérios do acordo para o pagamento de dívidas trabalhistas.
O levantamento feito pelo sócio José Américo comparou os planos de pagamento das dívidas trabalhistas do Vasco com os de outros clubes. Os cálculos indicam que, com as condições que não aplicam descontos para acordos com credores que possuem saldo até 150 salários mínimos (cerca de R$ 211 mil) e um desconto de 75% para valores acima, o Vasco poderia economizar R$ 144 milhões.
Esse levantamento também destacou que o atual presidente da Assembleia Geral, Alan Belaciano, esteve presente em 80% das audiências de processos trabalhistas relacionados a ex-clientes, de acordo com informações obtidas no site do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro.
A carta pedia cinco esclarecimentos no prazo de 15 dias:
- Esclarecimento formal sobre a participação do presidente da Assembleia Geral em audiências judiciais como representante de credores do CRVG, detalhando a natureza das representações e seu impacto para o clube;
- Esclarecimento formal sobre a designação do presidente da Assembleia Geral para atuar como representante do CRVG na renegociação com credores trabalhistas, apesar do clube e da Vasco SAF terem advogados constituídos e contratarem firmas terceirizadas para essa função;
- Esclarecimento formal sobre manifestações do setor de conformidade do CRVG acerca da atuação dele e possíveis credores, conforme recomendações de boas práticas de governança;
- Esclarecimento formal sobre as razões para formalizar um acordo com os credores trabalhistas em condições inferiores às do mercado e a adoção de critérios diferenciados para credores cíveis;
- Submissão de planos de pagamento celebrados com credores à aprovação do Conselho Deliberativo, considerando que os efeitos financeiros se estendem ao longo do tempo e não se limitam à gestão atual.
No último dia 9 de maio, aproximadamente 100 sócios do Vasco enviaram um ofício ao presidente Pedrinho, aos presidentes dos outros quatro poderes do clube e ao CEO Carlos Amodeo solicitando esclarecimentos sobre o caso. Essa mobilização foi reativada após 100 dias sem resposta do presidente da Assembleia Geral.
Fonte: ge