Com franqueza característica, relatou no Abre Aspas a construção e a desintegração do Clube dos 13, os times memoráveis e as polêmicas, desde as Papeletas Amarelas de 1986 até os desentendimentos ao longo de décadas no futebol brasileiro. Até o atual presidente Rodolfo Landim foi alvo de suas declarações.
(…)
Por que o Flamengo demorou tanto para se tornar a potência financeira que é hoje?
— Bem, não foi algo simples. Seria necessário um outro programa exclusivo para discutir os interesses que se opõem aos dos clubes. Recentemente, revi um programa sobre a Copa União [de 1987]. A influência dessas instituições. Observe: eu, como deputado federal constituinte, com a legislação a meu favor, fui o responsável por aquilo. Com o apoio do CND (Conselho Nacional do Desporto), ao nosso favor. Mesmo assim, aquele sujeito da Federação de São Paulo, Nabi Abi Chedid, nos causou problemas. Portanto, essas instituições mais antigas, que detinham o controle do poder e dos recursos direcionados a elas, é que mantinham todos esses clubes mendigando. Nós produzimos o futebol, pagamos os atletas, organizamos o espetáculo. E eles lucram.
O Clube dos 13, a Copa União, foram uma forma de reação a isso?
— Sim. Otávio Pinto Guimarães [presidente da CBF] foi ao Jornal Nacional e afirmou: “Este ano não teremos condições de organizar o campeonato nacional”. Peguei o telefone e liguei para Carlos Miguel Aidar [presidente do São Paulo]: “É hora de agir. A revolução está acontecendo. A bandeira pertence a quem a segurar”. Foi assim que tudo começou. Criamos um campeonato. A TV Globo entrou, Dr. Roberto comprou. A Coca Cola patrocinou os times sem anúncio nas camisas. Fechamos com a Varig e realizamos o campeonato. Foi o mais lucrativo. E para encerrar, Flamengo campeão.
Por que os clubes ainda não conseguiram estabelecer uma liga até os dias de hoje?
— Sabe, naquela época conseguimos porque ousamos, não é? Hoje vejo poucas possibilidades de repetir essa ousadia. Com os clubes divididos, torna-se complicado promover mudanças. Essa turma das federações, das entidades administrativas, joga pesado. As coisas melhoraram consideravelmente. Porém, ainda é muito desafiador modificar essa realidade. Portanto, vejo como algo impraticável. E olha que eu gosto de uma briga, mas já estou um tanto velho.
O senhor se sente traído pelo desenrolar dos acontecimentos posteriormente? Por quem?
— Sim. Por Eurico Miranda, que se uniu a Caixa D’Água [Eduardo Viana, ex-presidente da Ferj] e elegeram Ricardo Teixeira [presidente da CBF], que veio com o plano em prol das federações. As votações eram feitas pelas federações. Isso resultou no fim do Clube dos 13. E eles encheram os bolsos de dinheiro, tanto as federações quanto eles mesmos.
Qual era a sua relação com Eurico?
— Na essência, no fundo, ele não era uma má pessoa. Não era como Nabi Abi Chedid. Ele passou a vida inteira envolvido nessa rivalidade com o Flamengo. Era perspicaz, e se elegeu deputado por duas vezes graças a essa rivalidade com o Flamengo. Manejava o poder, se aliava ao presidente da Federação, tudo para se opor ao Flamengo. Tudo que Eurico almejava era destruir o Flamengo, e foi essa parceria que formaram.
(…)Fonte: ge