O Vasco está avançando em sua reestruturação financeira com um novo pedido à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. O clube busca autorização judicial para um financiamento na modalidade DIP (Debtor in Possession) de até R$ 80 milhões. Os recursos serão destinados exclusivamente para despesas operacionais, incluindo salários, fornecedores essenciais e obrigações trabalhistas e fiscais durante a recuperação judicial.
Felipe Carregal, vice-presidente jurídico do Vasco, concedeu uma entrevista ao ge para explicar as razões por trás desse movimento. Segundo ele, o fluxo de caixa da Sociedade de Futebol (SAF) foi prejudicado pela gestão da 777 Partners, tornando o empréstimo essencial para equilibrar as finanças do clube sem precisar vender ativos valiosos como o jovem talento Rayan, que vem se destacando na temporada. A venda do atacante já havia sido contemplada nos relatórios apresentados à Justiça no início do processo de recuperação.
— O fluxo de caixa foi afetado por dívidas irresponsáveis da 777, algumas delas com vencimento imediato. O empréstimo se faz necessário para manter a responsabilidade financeira e foi previsto no pedido de recuperação judicial. Essa questão foi abordada de maneira transparente nas apresentações internas para conselheiros e outras partes envolvidas no clube — destacou Carregal, acrescentando:
— Vale destacar que a diretoria atual se esforçou para manter o Rayan, um ativo estratégico e peça fundamental no elenco, ao contrário do que ocorreu no passado com a venda de talentos para saldar débitos.
A proposta de financiamento inclui como garantia 20 mil ações ordinárias de classe A, correspondendo a 20% do capital social da Vasco SAF, atualmente sob posse do CRVG. Estas ações são consideradas ativos não circulantes e só poderão ser usadas com aval judicial.
De acordo com Carregal, a escolha dessas ações como garantia visa não comprometer as receitas futuras do clube, como direitos de transmissão, patrocínios ou vendas de jogadores. Ele também esclareceu que o valor da garantia supera o montante do financiamento, considerando juros e correções.
— Em operações de recuperação judicial, a garantia oferecida geralmente é superior ao montante financiado, incluindo juros e correção. Vale ressaltar que a garantia não corresponde a uma abordagem de “valuation” ou alienação — enfatizou.
Bandeira do Vasco em São Januário — Foto: Matheus Lima/Vasco
O empréstimo proposto terá carência de 12 meses e um prazo máximo de quitação de três anos, com juros fixos de 7% ao ano, além da correção pelo CDI. O clube afirmou que o acordo foi elaborado com a ajuda de consultores e não afetará as principais fontes de receita.
No documento apresentado, o Vasco salienta que a urgência e a importância do empréstimo foram reconhecidas pelo judiciário, que condicionou sua decisão ao julgamento de um agravo da 777 Carioca LLC.
Recentemente, o Ministério Público manifestou-se pela rejeição do pedido de empréstimo, argumentando que os termos ainda não estão definidos. A decisão está agora sob análise da Justiça.
Conflito sobre as ações da SAF
Caso o financiamento seja aprovado, ele proporcionará ao Vasco um alívio financeiro temporário enquanto continua as negociações com credores e o processo de arbitragem com a 777. A SAF do Vasco é composta por 100%, sendo 31% já integralizados pelos investidores americanos, 30% pertencentes ao CRVG e 39% em disputa judicial.
Dos 30% de propriedade do Vasco, 10% estão penhorados em um processo judicial de cobrança de honorários advocatícios no valor de R$ 3.563.918,96, relacionado ao escritório que atuou nas eleições de 2020 e também para a gestão anterior. Os 20% restantes foram dados como garantia para o empréstimo.
Os 20% das ações da SAF, mencionados como comprometidos pela gestão anterior devido a dívidas ocultas de aproximadamente R$ 200 milhões, não podem ser vendidos, pois a Lei da SAF protege essas ações. A expectativa é que o desfecho da questão clínica dependerá de decisões judiciais futuras no âmbito da Recuperação Judicial.
Fonte: ge