Conheça a trajetória de Marcílio Dias, que inspirou a denominação do oponente do Vasco nesta 3ª-feira

O duelo marcado para esta terca-feira, às 21h30, no Estádio Hercílio Luz, representará o primeiro embate oficial entre Marcílio Dias e Vasco, que se encontram na etapa inicial da Copa do Brasil. Anteriormente, os times se enfrentaram em quatro jogos amistosos. Porém, a história dos clubes se entrelaça para além das quatro linhas. Nos mares.

O confronto poderia até ser intitulado de “Clash Marítimo”, visto que os patronos das duas equipes tiveram destaque como navegadores. Um sendo reconhecido como herói do Brasil, o outro de Portugal.

A saga do Vasco da Gama é cultuada há mais de cem anos pelos vascaínos. O Almirante, que desbravou os oceanos ao encontrar uma rota lucrativa em direção à Índia, venerado como um herói lusitano, emprestou seu nome ao clube que, no final do século 20, mergulhou na “febre do remo”. Ao adentrar na entrada social de São Januário, os vascaínos se deparam com uma estátua do navegador. Um resumo do que também se repete em Itajaí-SC, distante mais de mil quilômetros do Rio de Janeiro.

Quem foi Marcílio Dias

Em 17 de março de 1919, o Clube Náutico Marcílio Dias optou por homenagear um navegador que se destacou como herói do Brasil na Guerra do Paraguai. A escolha se deu em virtude do clube dedicar-se às atividades marítimas, tendo o remo como esporte principal.

– O Marcílio iniciou como um jovem problemático e em menos de duas décadas se tornou um herói nacional. Descendente de escravos africanos trazidos ao Brasil, sua mãe, chamada Pulcena Dias, nasceu liberta da escravidão e casou-se com um português de nome Manuel. Marcílio era uma criança travessa, até que sua mãe o convenceu a ingressar em uma escola naval, onde os recrutas da Marinha eram treinados. Dentro da instituição, ele encontrou sua vocação e progrediu em posições mais graduadas. Durante a Guerra do Paraguai, aos 27 anos, ele se destacou como herói – revelou Gustavo Melim Gomes, professor e pesquisador esportivo.

– Seu navio foi cercado por quatro embarcações paraguaias e, ao defender a bandeira, travou um combate com quatro soldados inimigos, eliminado dois deles, mas acabou sendo dominado pelos outros e perdeu um braço. Marcílio Dias faleceu no dia seguinte, 12 de junho de 1865. A Marinha Brasileira reverteu a situação e derrotou o Paraguai nessa batalha – a partir desse momento, os paraguaios adotaram uma postura defensiva até a total derrota no confronto. Marcílio Dias foi sepultado no Rio Paraná, sendo reconhecido como herói naval e servindo de inspiração para diversas homenagens. Atualmente, diversas ruas e até um hospital levam seu nome – completou o pesquisador.

Presente da Marinha para o clube

Atrás de um dos gols do Estádio Hercílio Luz, avista-se o busto dedicado a Marcílio Dias. Este artefato, concedido pela Marinha ao clube na década de 1960, foi recentemente restaurado após um período de “exílio” devido a uma superstição entre os torcedores.

– A estátua foi inaugurada antes de um jogo contra o Avaí, em 15 de dezembro de 1963. Posteriormente, em momentos difíceis do Marcílio, surgiu a crença de que o busto poderia trazer azar ao time, então ele ficou de costas para o campo, próximo à entrada – explicou Fernando Alécio, diretor de Memória e Cultura do Marcílio Dias.

– Com a chegada da atual gestão, a escultura foi revitalizada e reposicionada atrás do gol, em local de destaque para que todos possam apreciá-la. É absurdo atribuir azar a ela, visto que chegou justamente em 1963, ano em que o clube conquistou o título catarinense, portanto, trouxe boa sorte ao Marcílio Dias – finalizou o pesquisador.

Marcílio Dias x Vasco

A praia de Itajaí pode até ser o refúgio do Marcílio Dias, mas será o Vasco da Gama quem se sentirá em casa na cidade catarinense. Recebido por uma forte presença de torcedores no hotel na véspera da partida, a equipe contará com apoio maciço da torcida no Hercílio Luz.

Com base na energia que emanará das arquibancadas, a maré estará a favor do Vasco nesta noite. O jogo tem início às 21h30, com histórico favorável aos cariocas, que jamais foram derrotados pelo time catarinense: em quatro amistosos, o Almirante saiu vitorioso por duas vezes, além de dois empates.

• 16/12/1976 – Vasco 3×0 Marcílio Dias – Amistoso
• 25/11/1981 – Vasco 1×0 Marcílio Dias – Amistoso
• 11/02/1984 – Vasco 1×1 Marcílio Dias – Amistoso
• 28/11/1987 – Vasco 0x0 Marcílio Dias – Amistoso

Ao Vasco da Gama, basta não ser derrotado para avançar à próxima fase da Copa do Brasil. Já o Marcílio Dias precisa da vitória em casa para seguir em frente.

Fonte: ge