“Sou Vasco da Gama, meu bem, campeão de terra e mar”. Esse é um dos momentos mais emocionantes para qualquer torcedor vascaíno que já viveu a singular atmosfera de uma tarde em São Januário, especialmente ao som do samba da Unidos da Tijuca, em tributo ao centenário do clube, entoado com fervor a cada gol.
O orgulho de ser o primeiro campeão invicto de Terra e Mar é uma das grandes conquistas da história do Vasco. O apelido foi dado em 1945, ano que marca o início de um dos times mais icônicos do futebol brasileiro e mundial: o Expresso da Vitória. No dia 18 de novembro, celebramos 80 anos dos títulos invictos no futebol e no remo.
Vasco celebra 80 anos do primeiro campeão invicto de terra e mar — Foto: O Globo
No remo, o Vasco conquistou o Campeonato Carioca, vencendo as cinco regatas da competição naquele ano. Nos gramados, o time atropelou seus rivais no estadual, quebrando uma “maldição” lançada por um jogador adversário, que deixava os torcedores vascaínos sem comemorações de títulos estaduais havia oito anos.
A seguir, você encontrará os detalhes da história do primeiro campeão invicto de terra e mar.
A “praga” do Arubinha
A narrativa se inicia quase como um conto folclórico, em 1937, quando o Vasco venceu o modesto Andarahy por 12 a 0 no Carioca. Arubinha, jogador do time alviverde, afirmou ter lançado uma praga ao Vasco, prometendo 12 anos sem um título — um ano para cada gol. Os rumores da época também falavam sobre um sapo supostamente enterrado pelo jogador no campo de São Januário.
A ‘praga’ de Arubinha com o Vasco, em 1937 — Foto: Acervo
Após isso, o Vasco passou por um longo jejum sem conquistar o Campeonato Carioca, com a história da maldição de Arubinha ressoando a cada ano que passava. O cenário conturbado levou a uma reestruturação do clube, com Cyro Aranha assumindo a presidência em 1942 e realizando mudanças significativas na equipe, trazendo jogadores como Ademir Menezes, Chico, Isaías e Lelé. Mesmo assim, o jejum se estendeu por mais três anos, até que 1945 finalmente chegou.
A primeira geração do Expresso da Vitória
Enfrentando a sombra da praga de Arubinha, Cyro Aranha reformulou a política de aquisições em 1942, focando em jogadores que se destacavam em confrontos contra o Vasco. Assim, chegaram Ademir de Menezes e outros talentos como Jair, Lelé, Nilton e Sampaio.
Em 1943, o técnico Ondino Viera e atletas como Chico e Djalma se juntaram ao grupo. Em 1944, Ely do Amparo foi contratado, vindo do Canto do Rio, e se tornaria o “xerife” do Expresso. Já em 1945, a equipe ganhou os nomes que faltavam, como Augusto e Barbosa, que se tornaria um dos maiores goleiros da história do clube.
Barbosa, um dos maiores ídolos do Vasco, era o goleiro do Expresso da Vitória — Foto: Arquivo
Campeão de Terra
O apelido “Expresso da Vitória” foi criado pelo cartunista argentino Lorenzo Molas, que desenhou uma locomotiva com bigode para ilustrar o excelente desempenho do Vasco em 1945 no Jornal dos Sports, após a vitória sobre o Madureira no Torneio Municipal daquele ano.
O Vasco venceu todos os nove jogos do Torneio Municipal e também já havia se consagrado no Torneio Início. Entrou no Campeonato Carioca como favorito, e o time de Ondino Viera comprovou seu domínio ao conquistar o estadual de forma invicta, garantindo o título antecipadamente em 11 de novembro, ao vencer o Madureira por 4 a 0 e com o empate do Botafogo contra o São Cristóvão.
Vasco campeão carioca de 1945 — Foto: Arquivo O Globo
Uma semana depois, no “jogo das faixas”, o Vasco teve pela frente o Flamengo, seu maior rival. Com o time rubro-negro abrindo 2 a 0, Isaías empatou a partida com dois gols no segundo tempo. O jogo foi interrompido por uma briga nas arquibancadas e só foi retomado após dois dias, mas o empate de 2 a 2 se mantivera.
Em resumo, somando o Torneio Municipal e o Carioca, o Vasco disputou 27 partidas, conquistando 22 vitórias e 5 empates, com 99 gols marcados e apenas 25 sofridos. Com isso, a maldição de Arubinha foi finalmente desfeita.
Campeão do Mar
Em 1945, o Vasco também era conhecido como “Expresso das Águas”. O principal campeonato de remo do Rio de Janeiro naquele ano contou com quatro regatas oficiais e uma quinta decisiva que definiria o campeão carioca. O clube venceu as quatro regatas e também fez história ao sagrar-se campeão invicto na regata decisiva.
A competição de remo aconteceu curiosamente na manhã do dia 18 de novembro, enquanto à tarde o clássico contra o Flamengo celebrava a marca de primeiro campeão invicto de terra e mar para o Vasco.
Já em 1944, o clube tinha conquistado 21 títulos estaduais no remo, com uma sequência impressionante de 16 títulos consecutivos até 1959, um recorde na história do Campeonato Carioca de Remo.
Time de Remo do Vasco em 1953 — Foto: Acervo
A primeira estrela dourada
Com as conquistas de 1945, o Vasco se tornou o primeiro clube a conquistar seus títulos de forma invicta. Esse marco histórico foi simbolizado por uma estrela, a primeira entre as oito que adornam o pavilhão do clube.
As outras sete estrelas correspondem aos títulos do Campeonato Brasileiro em 1974, 1989, 1997 e 2000, ao Campeonato Sul-Americano de 1948, à Taça Libertadores de 1998 e à Copa Mercosul de 2000.
Recentemente, o Vasco lançou seu terceiro uniforme em homenagem aos 80 anos dessa conquista histórica, com uma camisa marrom, representando a “Terra” e um uniforme de goleiro azul claro, simbolizando o “Mar”.
Vasco divulga terceiro uniforme para 2025/2026 — Foto: Divulgação
Fonte: ge







