Voltando no tempo, é importante recordar o cenário que levou à união de Edmundo e Nova Iguaçu no cenário futebolístico carioca. Em 2004, Edmundo não teve sucesso no Fluminense, após o time de Laranjeiras, em parceria com a Unimed, montar uma equipe badalada com Romário, Ramon e Roger.
Ao término do ano, o contrato de Edmundo não foi renovado pelo Fluminense e ele ficou sem clube. Após declarar em uma entrevista que não jogaria em outros clubes do Rio de Janeiro que não fosse o Tricolor, o atacante acabou indo para o Nova Iguaçu.
– No Rio, eu só continuo jogando no Fluminense, ou Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos, Cruzeiro… – disse Edmundo antes de selar contrato com o Nova Iguaçu.
No entanto, uma tragédia familiar mudou o curso da carreira de Edmundo, quando seu irmão Luizinho foi morto. O livro “Edmundo, um instinto animal” revela que o jogador foi convencido por Lindbergh Farias a se envolver em um projeto social em Nova Iguaçu, local onde havia ocorrido uma chacina relacionada ao tráfico de drogas.
– Lindbergh conhecia a trágica história do irmão de Edmundo que havia sido assassinado, provavelmente por membros do tráfico de drogas. Nova Iguaçu havia passado por outra chacina motivada também pelo tráfico. A proposta era transformar Edmundo em um tipo de embaixador esportivo da cidade de Nova Iguaçu. O jogador famoso poderia ser um modelo de inspiração para muitos jovens buscarem, por meio do esporte, uma vida melhor – escreveu Sérgio Xavier Filho, no livro “Edmundo, um instinto animal”.
– Para Edmundo, aquilo tinha muito sentido. Ele estaria deixando o futebol para realizar algo de grande relevância. Essa atitude não poderia trazer Luizinho de volta, mas poderia evitar, por meio de seu exemplo, que outros optassem pelo crime como meio de fugir da pobreza.
Em um dos encontros sobre o programa social, o destino uniu Edmundo e o clube de futebol da cidade: o Nova Iguaçu. Durante um jantar com Lindbergh em uma churrascaria, o jogador encontrou Zinho, investidor do clube e conhecido de longa data dos tempos de Palmeiras, com Jânio Moraes, presidente do Nova Iguaçu.
As mesas se juntaram e dali surgiu a ideia: por que não jogar no clube da cidade, onde seria o rosto do projeto social?
Acordo fechado. O atacante receberia apenas um salário mínimo do clube, enquanto uma empresa local pagaria R$ 20 mil para utilizá-lo como garoto-propaganda. Edmundo reforçou o Nova Iguaçu e se emocionou logo na apresentação ao abordar a perda do irmão e o projeto social.
– Pensei em desistir, mas esse é um desafio, pois quero que saiam daqui vitoriosos, não vítimas. Vou auxiliar as crianças e posso deixar minha marca na história da cidade. Eu perdi um irmão que não teve essa oportunidade – declarou Edmundo emocionado.
Na entrevista, inclusive, quando questionado se teria algum privilégio como Romário, Edmundo respondeu de forma direta citando o ex-companheiro de Vasco.
– Meu nome é Edmundo. E isso não é o Vasco. Preciso estar em igualdade para exigir igualdade – afirmou.
Após um mês de treinamento para recuperar a forma física, Edmundo disputou apenas dois jogos – e marcou um gol – pelo Nova Iguaçu na segunda divisão do Rio de Janeiro. Alegando que a empresa local não havia cumprido com o combinado financeiro, ele deixou o clube.
Mesmo sem atuar com frequência, Edmundo foi convidado pelo Figueirense a jogar no Campeonato Brasileiro de 2005 e aceitou, com a missão de evitar o rebaixamento da equipe – e conseguiu, com 15 gols em 31 partidas pelo time catarinense. Depois, retornou ao Palmeiras e ao Vasco para encerrar a carreira.
Fonte: ge