A 5ª Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ) agora conta com a presença de um ex-jogador como auditor. Yago Andrade, que atuou como lateral-direito e foi considerado uma grande promessa nas categorias de base do Vasco, assumiu a função neste mês e iniciou essa nova fase em sua carreira.
Com 33 anos, Yago pretende utilizar sua experiência como atleta para contribuir com os julgamentos no tribunal. Ele passou 11 anos na base do Vasco, teve uma breve passagem pelo Flamengo antes de se tornar profissional e jogou pelo Madureira e Bonsucesso, decidindo encerrar sua carreira para seguir o mesmo caminho que seus pais.
“A gente que compreende essas terminologias jurídicas muitas vezes acaba complicando mais as coisas do que ajudando,” reflete Yago. Ele acredita que ter alguém com seu histórico, que entenda as disputas acaloradas e a dinâmica do jogo, pode fazer a diferença. “Há muita injustiça em muitos casos. Acredito que minha visão, de quem passou por isso há 12 anos, será muito útil,” finaliza em entrevista ao ge.
Yago Andrade, ex-jogador da base do Vasco, vira auditor do TJD-RJ — Foto: Arquivo Pessoal
A saída de Yago da base do Vasco, em 2011, foi marcada por conturbações, incluindo denúncias de irregularidades na gestão do clube. Após isso, ele chegou a assinar contrato com o Flamengo. “Na época, recebi certa resistência da torcida do Vasco,” admite. Contudo, ele assegura que isso é passado.
“Minha relação com o clube é maravilhosa, sempre tive carinho pelo Vasco. Saí com sentimentos mistos porque foi o clube onde vivi por mais de uma década. Sou eternamente grato por tudo que vivi ali,” enfatiza Yago.
“Eu não tive um rompimento emocional com o clube, mas sim uma interrupção brusca de carreira, resultante de questões administrativas,” acrescenta.
Yago Andrade em ação na base do Vasco — Foto: Arquivo Pessoal
Yago Andrade ao lado de César e Adryan na base do Flamengo — Foto: Arquivo Pessoal
No Flamengo, Yago atuou com Adryan e o goleiro César na base, mas quando se tornou profissional, foi emprestado ao Madureira, sem chegar a jogar no time principal do Fla. Antes de pendurar as chuteiras, também passou pelo Bonsucesso.
“Decidi encerrar minha carreira ao perceber a realidade do futebol carioca e a importância da educação. Eu vivi dois mundos distintos no futebol; conheci o lado árduo da vida de um atleta profissional,” explica Yago, que é filho do renomado advogado criminalista Nélio Andrade, falecido em 2016.
“Doeu ver um amigo de clube passando por aquilo”
Em 2022, Max, outro ex-lateral-direito do Vasco, foi preso sob acusação de extorsão e formação de quadrilha. Yago, que já atuava como advogado criminalista na época, foi procurado por Souza e Alex Teixeira, amigos que se uniram para ajudar Max.
“Eles me ligaram e disseram: ‘Yago, não se preocupe com quanto você vai cobrar, queremos apenas que você resolva essa situação’,” lembra Yago.
Yago Andrade ao lado do amigo Max, que havia acabado de sair da cadeia — Foto: Arquivo Pessoal
Yago defendeu Max no processo e conseguiu demonstrar que ele apenas tinha agido de forma truculenta ao cobrar uma dívida. Assim, o Ministério Público retirou as acusações mais graves, enquadrando-os no artigo 345 do Código Penal, um crime de menor potencial ofensivo. Max passou dois meses e quatro dias na penitenciária José Frederico Marques, em Benfica.
“A parte mais difícil foi vivenciar o sofrimento diário deles dentro do sistema penitenciário. É desumano,” menciona Yago. “O que realmente doía era ver um amigo de clube passando por essa situação, enquanto eu tentava apoiá-lo de longe,” recorda ele.
“Sabia que muitos viram as costas quando alguém é preso, mas nós não. Sempre que ouvimos o chamado, estamos lá para ajudar a trazer nossos amigos de volta para casa,” conclui.
Fonte: ge







