No entanto, o clube quase perdeu a chance de contar com ele. A assinatura do contrato de Vegetti ocorreu literalmente no dia final da segunda janela de transferências de 2023, restando apenas algumas horas antes do fechamento das inscrições.
A situação é semelhante à de Ian Glavinovich, zagueiro argentino que teve um acordo com o Newell’s Old Boys, mas não conseguiu finalizar a negociação porque a documentação não foi enviada a tempo. Assim como falhou em encontrar um zagueiro na última janela, o Vasco quase ficou sem um centroavante no ano passado.
Pablo Vegetti, atacante e capitão do Vasco, em ação pela equipe — Foto: Leandro Amorim/Vasco
Um ano depois, o ge revela os bastidores dessa que é, sem dúvida, uma das contratações mais impactantes do Vasco nos últimos tempos. A correria e as ligações se estenderam até o amanhecer, mas um detalhe no modelo da transferência foi crucial para evitar a burocracia e garantir o fechamento do negócio a tempo.
A busca pelo camisa 9
No primeiro semestre do ano passado, o centroavante do Vasco era Pedro Raul. Após uma temporada brilhante no Goiás, o atacante começou bem, mas logo enfrentou um desgaste, com gols perdidos e pênaltis desperdiçados – o mais lembrado foi na eliminação diante do ABC, na segunda fase da Copa do Brasil, em São Januário.
Seu substituto, Rwan Cruz, não aproveitou as poucas chances que teve. Durante a janela, o Vasco decidiu encerrar o contrato de empréstimo com o Santos para que ele se transferisse para o Ludogorets, da Bulgária, onde permanece até agora. O jovem Eguinaldo, com apenas 18 anos, também foi negociado com o Shakhtar Donetsk.
Naquele momento, o Vasco, que estava na zona de rebaixamento do Brasileirão, precisava de um centroavante – assim como precisava de reforços em quase todas as posições, visando uma reação que parecia distante. Porém, a necessidade do camisa 9 aumentou ainda mais com a venda de Pedro Raul para o Toluca, do México.
A proposta dos mexicanos foi considerada irresistível pela diretoria vascaína: mais que o dobro do valor que o clube havia pago por Pedro Raul seis meses antes. Assim, o Vasco, que já havia iniciado a busca por um centroavante, decidiu liberar três jogadores da posição antes mesmo de assegurar um substituto. Era hora de agir no mercado de forma mais contundente.
Clube focou em alvos
Paulo Bracks era o executivo de futebol e coordenava as negociações do Vasco. Desde o início da janela, o clube tinha três alvos principais em mente: Pablo Vegetti, do Belgrano; Michael Santos, do Talleres; e Gabriel Ávalos, do Argentinos Juniors.
Naquele momento, Vegetti tinha uma multa rescisória fixada em cerca de US$ 1 milhão, mas a partir de dezembro poderia assinar de graça com qualquer equipe. Bracks, já na primeira rodada de negociações, ofereceu 50% desse valor ao Belgrano para a liberação imediata, subiu para 60%, mas não alcançou um acordo inicial.
As tratativas para Michael e Ávalos aconteciam ao mesmo tempo, mas em nenhum momento avançaram a ponto de quase serem finalizadas. Ambos mostraram interesse em jogar no Brasil, mas Argentinos Juniors e Talleres dificultaram as negociações.
Diego Costa também foi um nome cogitado. Bracks, que admirava o jogador, até pensou em viajar até a Espanha para contratá-lo, mas o atacante, sem clube, não estava disposto a entrar em uma luta contra o rebaixamento.
O nome de Abel Hernández, que já havia trabalhado com Bracks no Internacional, foi colocado na mesa. Diante da falta de opções e com o tempo escasso, o Vasco buscou uma conversa com o Peñarol, aproveitando uma troca de farpas entre o clube uruguaio e o representante do atleta, mas não pressionou para concretizar a negociação. Ele não se encaixava no perfil desejado.
Enquanto isso, o Vasco acertou a contratação de Sebastián Ferreira, do Houston Dynamo. O atacante paraguaio foi um pedido direto de Ramón Díaz e chegou, inicialmente, para ser uma opção no banco para Rwan Cruz. O clube permaneceria no mercado procurando seu atacante principal.
Com as negociações por Michael Santos e Gabriel Ávalos sem progressos, o Vasco decidiu concentrar seus esforços em contratar Vegetti. Foi num domingo, 30 de julho, que a janela se fecharia na quarta-feira (02/09), em apenas três dias.
“Xeque-mate no Belgrano”
– Reuni-me com a equipe de scouts, que estava sempre comigo, e disse: vamos para cima do Belgrano e pagar a multa. Esse cara vai chegar aqui e brilhar, é o 9 que precisamos – contou Paulo Bracks ao ge.
– Eu retomei as conversas porque percebi que, se pagássemos a multa, daríamos um xeque-mate no Belgrano. Imaginem, eles têm uma multa até dezembro e estão negociando um jogador até junho ou julho. Claro que eles vão querer aceitar. Mas aqui fica a impressão de que vamos pagar a mais por alguns meses antes. Por quê pagar mais se em dois meses o jogador pode estar livre? – completou.
O Vasco formalizou uma nova proposta ao Belgrano, propondo o pagamento total da multa, no domingo. Na terça-feira à noite, dia 1º de setembro, véspera do fim da janela, o clube argentino respondeu “sim”.
Uma reunião de urgência foi realizada com os departamentos de registro, jurídico e scout do Vasco para discutir como proceder. Enquanto organizavam passagens para Vegetti e seu empresário, o clube contatou a Associação de Futebol Argentino (AFA) para agilizar os processos, já que havia passado por experiências demoradas em contratações recentes, como as de Luca Orellano e Manuel Capasso.
Para cada transferência oficial de um jogador argentino, além das trocas de documentos, a AFA cobra uma taxa cujo trâmite é demorado. Empréstimos são bem mais simples. Assim, sobrando menos de um dia para o fechamento da janela, Bracks teve uma ideia para driblar a burocracia: Vasco e Belgrano fechariam um empréstimo com cláusula de compra atrelada a uma meta simples, quase irrelevante, que certamente seria cumprida.
Dessa forma, ficou definido que o Vasco teria a obrigação de adquirir Vegetti caso o atacante marcasse um gol durante o período de empréstimo. A inscrição e todos os trâmites foram concluídos a tempo.
O argentino foi anunciado oficialmente na sexta-feira e fez sua estreia dois dias depois, em um jogo contra o Grêmio. Entrando aos 19 minutos do segundo tempo, aos 35, ele garantiu a vitória por 1 a 0 em São Januário, cumprindo a meta logo em sua primeira partida.
Fonte: ge