A conquista do tri
Vasco 2×0 Fluminense (Campeonato Estadual 1994)
Artigo de Paulo Júlio Clement publicado em O Globo de 16/5/1994
(JPEG, 80k).
Três vezes Vasco. E foi justo. Não somente pelo jogo de ontem,
quando atropelou o Fluminense com a autoridade dos grandes vencedores.
Fez 2 a 0 e poderia ter chegado aos três, talvez quatro. Vasco
Tricampeão Estadual
(1992/
93/
94),
com todos os méritos. Inédito para o clube, o
título foi para São Januário com a marca de um futebol superior em todo
o campeonato. E toda essa superioridade acabou materializada nos pés, as
vezes desengonçados, mas extremamente iluminados de Jardel. Herói que
com dois golpes dilacerou sonhos de tricolores e rubro-negros, que mesmo
a distância tinham esperanças.
Quem olhar os números verá como o Vasco foi superior, mais
regular. Tropeçou, assustou a torcida, mas soube ser o melhor na hora da
verdade. Ao Fluminense, restou lutar. Foi pouco, porque o Vasco também
soube ter raça. A ténica mais apurada de jogadores como William e Yan,
por exemplo, decidiu.
O Fluminense nem deu esperanças à torcida. Já estava sufocado no
primeiro minuto, quando o infeliz Luiz Henrique fez um pênalti
desnecessário em Pimentel. O silêncio dos vascaínos parecia um
vaticínio. Yan chutou no canto direito, mas Ricardo Cruz defendeu, como
fizera no outro domingo, contra o Flamengo.
Outro time talvez se abatesse. Não o Vasco. O garoto Yan, de
apenas 19 anos, ignorou o fracasso momentâneo. Talvez enxergasse na
frente, percebendo que estava do lado vencedor. E foi de uma jogada
iniciada de seus pés que Jardel começou a escrever seu nome na história
do Vasco e do próprio futebol do Rio. Eram seis minutos e sobrava
emoção.
Sair na frente dessa maneira numa decisão é vantagem demais. Mais
ainda se o adversário tem limitações para ser ofensivo. O Fluminense é
chegado a contra-ataques, mas esbarrou num excelente bloqueio no
meio-campo do Vasco. Tilico, que passou a semana toda falando bravatas,
prometendo deslocamentos estonteantes, resolveu se fixar na ponta. Nada
fez. Para completar, Branco revelava sérios problemas físicos. Pecado
mortal num jogo no qual a disposição contou muito.
Pelo lado do Vasco, tudo bem.
Valdir perdeu duas oportunidades e
não seria nada demais o primeiro tempo virar 2 a 0. Era questão de
tempo. Delei puxou Branco para o meio, tirou Claudio, pôs Lira; a
torcida do Fluminense fez festa, gastou fogos para empurrar o time;
rubro-negros escondidos no Maracanã ou torcendo de longe, faziam
corrente para o empate. Tudo inútil. O título estava nas mãos do Vasco,
na cabeça de William, organizador do time e nos pés de Jardel. 2 a 0 aos
17 minutos.
Lira chutou uma bola na trave, Tilico perdeu um gol na cara de
Carlos Germano. Os vascaínos nem se assustaram. Não era preciso ser
adivinho para ver quem levaria a taca. A partir dos 30 minutos a torcida
passou a gritar um a um o nome de seus heróis, agradeceu ao técnico
Jair Pereira, lembrou do falecido Dener
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Tudo muito consciente, seguro, natural, como foi a histórica conquista do Vasco.
Vasco 2
Fluminense 0
Maracanã, 15 de maio de 1994
GOLS: Primeiro tempo – Jardel, aos 6 minutos. Segundo tempo – Jardel, aos 17 minutos.
VASCO: Carlos Germano, Pimentel, Ricardo Rocha, Torres e Cássio; Leandro, Luisinho, William e Yan; Jardel e Valdir.
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Técnico: Jair Pereira
FLUMINENSE: Ricardo Cruz, Alfinete, Rau, Luís Eduardo e Branco; Jandir, Claudio (Lira), Luís Henrique e Luís Antônio; Mário Tilico e Ézio.
Técnico: Delei
JUIZ: Leo Feldman, auxiliado por Teodoro de Castro Lino e João José Loureiro.
CARTÕES AMARELOS: Ézio, Yan, Luís Henrique, Branco, Torres, Luís Antônio e Luisinho.
RENDA: CR$ 609.058.000,000
PÚBLICO: 66.121 pagantes
(Ingresso: JPEG, 11k)
Atuações
Carlos Germano – Fez poucas defesas, mas mostrou segurança nas saídas de
gol. Teve sorte também, numa bola que bateu na trave. Nota 7.
Pimentel – Praticamente não teve a quem marcar e partiu com firmeza para
o apoio. Nota 8,5.
Ricardo Rocha – Nem precisou jogar tudo o que sabe para anular Ézio.
Suas antecipações foram sempre precisas. Nota 8.
Torres – No mesmo nível do companheiro de zaga. Muito bem nas bolas
altas. Nota 8.
Cássio – Uma peça destoante no time. Marcou Mário Tilico, mas não foi
tão exigido assim. Poderia ter aparecido mais nas jogas ofensivas. Nota 6.
Leandro – Muito bem na distribuição. Abusou nas faltas, mas não foi
desleal. Nota 7.
Luisinho – Mostrou a velha disposição em decisões. Comandou a marcação
no meio-campo, acertou passes e, quando foi preciso, apelou para os
chutões sem cerimônia. Nota 8,5.
William – Excelente. Soube aproveitar a fraca marcação do meio-campo do
Fluminense e criou jogadas com eficiência. Nota 9,5.
Yan – Também criativo, mas muito dedicado ao combate. Poderia ter
facilitado as coisas para seu time se tivesse convertido o pênalti logo
no começo do jogo. Nota 8,5.
Jardel – A ténica nunca foi seu forte, mas demonstrou oportunismo e
sorte nos lances decisivos. Entrou para a história do Vasco como o herói
do tricampeonato. Nota 10.
Valdir – Espetacular no passe para Jardel no primeiro gol. Inteligente,
buscou os lados da área para abrir espaços e fugir da marcação. So não
estava em tarde de artilheiro. Nota 9.
Jair Pereira – Armou um time combativo no meio-campo e rápido na saída
de bola. Tudo tão certo que nem precisou mexer. Nota 9.
O Arbitro
Leo Feldman não foi brilhante, mas sua atuação não teve qualquer
interferência no resultado da partida. Complicado em alguns lances,
invertendo faltas, Feldman, porém, foi preciso nas marcações mais
importantes. Como, por exemplo, no lance em que Luís Henrique derrubou
Pimentel na área, com um minuto de jogo. Estava bem colocado e marcou
com convicção o pênalti. Estava tão certo que quase não houve
reclamações.
Distribuiu com certa fartura os cartões amarelos e controlou a
violência. Poderia ter sido enérgico com Leandro, que fez muitas faltas,
mas isso não chegou a comprometer sua atuação. Seus auxiliares, João
José Loureiro e Teodoro Castro Lino, também estiveram bem.
Os Gols
Vasco 1 a 0 – Contra-ataque rápido. Yan domina na intermediária do
Vasco, toca para William e este, de primeira, faz ótimo lançamento para
Valdir, pelo lado esquerdo. Valdir nem chega a dominar a bola. Com a
perna esquerda cruza, também de primeira, na medida para Jardel. O
atacante se antecipa a Ricardo Cruz e toca para o gol. Aos seis minutos
do primeiro tempo
(RA, 133k).
Vasco 2 a 0 – Luís Antônio perde a bola na intermediária para William. O
apoiador avança pelo lado esquerdo da grande área e toca nas costas da
zaga para Jardel. O centroavante troca a bola de pé e tenta cruzar de
trivela para Valdir. A bola bate em Luís Eduardo e engana o goleiro
Ricardo Cruz. Aos 17 minutos do segundo tempo
(RA, 135k).
Os campeões
Carlos Germano - Goleiro - 23 anos; 1,84m; 84kg; 17 jogos
Pimentel - Lateral-direito - 21 anos; 1,74m; 72kg; 17 jogos
Alexandre Torres - Zagueiro-central - 27 anos; 1,85m; 83kg; 17 jogos
Ricardo Rocha - Quarto-zagueiro - 32 anos; 1,80m; 77kg; 17 jogos
Cássio - Lateral-esquerdo - 24 anos; 1,70m; 65kg; 9 jogos
Leandro - Apoiador - 23 anos; 1,75m; 76kg; 17 jogos
Luisinho - Apoiador - 29 anos; 1,68m; 69kg; 14 jogos
França - Apoiador - 22 anos; 1,71m; 70kg; 16 jogos
Valdir - Atacante - 22 anos; 1,76m; 73kg; 17 jogos
Dener - Atacante - 23 anos; 1,70m; 69kg; 13 jogos
Yan - Atacante - 19 anos; 1,69m; 70kg; 17 jogos
William - Apoiador - 26 anos; 1,63m; 63kg; 13 jogos
Hernande - Atacante - 20 anos; 1,70m; 67kg; 11 jogos
Jardel - Atacante - 21 anos; 1,83m; 77kg; 8 jogos
Gian - Atacante - 19 anos; 1,71m; 69kg; 5 jogos
Sidnei - Lateral-esquerdo - 23 anos; 1,72m; 68kg; 9 jogos
Jorge Luiz - Quarto-zagueiro - 28 anos; 1,76m; 67kg; 5 jogos
Tinho - Quarto-zagueiro - 23 anos; 1,81m; 81kg; 3 jogos
Vítor - Apoiador - 22 anos; 1,70m; 64kg; 3 jogos
Jair Pereira - Técnico