“Este é um Vasco totalmente diferente e isso é inegável”.
Em sua visita ao Brasil, no final desta semana, Josh Wander concedeu uma entrevista exclusiva ao ge. O proprietário da 777 Partners, grupo gestor da SAF do Vasco, defendeu a mudança na gestão do clube, que agora busca a estabilidade financeira. Segundo o empresário, trata-se de um projeto de longo prazo, marcado por melhorias significativas, apesar dos resultados decepcionantes em campo.
Respondendo a questionamentos enviados por escrito, o executivo utilizou a expressão “nova fase do Vasco” para caracterizar a transformação promovida pela SAF, que tem mantido os salários em dia, reorganizado os processos internos e quitado as dívidas acumuladas ao longo dos anos. Para Wander, trata-se de mudanças expressivas em um período relativamente curto.
– Investir em atletas é crucial, porém é imprescindível ir além disso para gerir eficazmente um clube. Reconhecemos a necessidade de evolução no aspecto esportivo, mas estou confiante de que teremos um desempenho positivo no Campeonato Brasileiro deste ano. É relevante lembrar a situação do Vasco há dois anos. Desde a chegada da 777, a situação financeira e administrativa do clube evoluiu de forma drástica em apenas 18 meses – destacou o executivo, acrescentando:
– Todos os nossos funcionários e jogadores vêm sendo remunerados pontualmente desde a nossa chegada, algo que, infelizmente, não era comum no futebol brasileiro ao longo das últimas três décadas do Vasco. Quitamos mais de R$ 100 milhões em dívidas, superando as expectativas iniciais, e aumentamos as receitas e os patrocínios em mais de 100%. Nosso clube opera de maneira profissional e responsável, visando a sustentabilidade financeira.
E quanto aos resultados esportivos? Embora os investimentos da SAF tenham agregado valor ao time, a performance ainda deixa a desejar – no mês passado, o Vasco foi eliminado pelo Nova Iguaçu na semifinal do Campeonato Carioca e escapou do rebaixamento na última rodada do Brasileirão no ano passado. Esta tem sido a principal cobrança por parte da torcida, e Josh solicita um voto de confiança.
Há dois anos, antes da conclusão da compra da SAF pela 777, Josh Wander fez uma declaração que gerou grandes expectativas na torcida do Vasco. Na primeira visita ao clube, em março de 2022, o proprietário disse que o clássico contra o Flamengo, válido pela semifinal do Carioca daquele ano, seria o “último desvantajoso em termos de orçamento“. Atualmente, ele reconhece que suas palavras poderiam ter sido mais cuidadosas.
– Compreendo que as expectativas geradas a partir daquele pronunciamento foram elevadas, porém eu o fiz guiado pela paixão e ambição. Reconheço que poderia ter escolhido minhas palavras com mais cautela naquela ocasião. O fato é que nos encontramos entre os cinco maiores orçamentos do futebol brasileiro nos últimos dois anos e estamos construindo uma estrutura sustentável visando ao sucesso em longo prazo – ponderou o empresário.
– Os problemas que herdamos não surgiram da noite para o dia e tampouco podem ser resolvidos dessa maneira. Estabelecer um elenco vitorioso no futebol demanda tempo. Basta observar os principais clubes do Brasil, que levaram quatro, cinco anos para construir uma equipe sólida capaz de conquistar títulos. O que gostaria de frisar aos torcedores é que estamos no caminho certo para recolocar o Vasco no seu devido lugar – completou.
Josh desembarcou no Brasil na sexta-feira, ocasião em que se encontrou com Pedrinho, presidente do clube. O encontro foi solicitado pelo ex-jogador insatisfeito com a gestão da SAF e com a relação distante com o CEO Lúcio Barbosa. O americano adotou um discurso de reconciliação.
– O que nos une é o amor pelo Vasco, e isso deveria prevalecer sobre qualquer discordância que possamos ter. Considero qualquer pessoa que almeje o melhor para o Vasco como um aliado. Portanto, eu sinceramente espero que nossas equipes consigam colaborar, respeitando que quem toma as decisões finais é nossa equipe liderada por Lúcio Barbosa – afirmou Josh Wander.
LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
ge: em menos de dois anos como SAF, o Vasco já trocou de diretor de futebol duas vezes. Você acredita que a empresa precisa rever os processos para que o trabalho funcione melhor?
Josh Wander: Independentemente do comando do departamento de futebol, há um plano de longo prazo para o Vasco que levamos muito a sério. Implementamos um processo para aprimorar nossa forma de investir em jogadores, tornando-o mais eficiente e visando os resultados em campo que todos desejamos. Certamente, há margem para melhorias e continuaremos refinando o processo de forma contínua.
Dito isso, nosso primeiro diretor de futebol trabalhou mais de um ano para reformular o elenco e contribuir para o retorno à Série A. Ele alcançou esse objetivo, porém julgamos ser o momento de trazer um novo líder para o departamento. Com o segundo diretor de futebol, percebemos rapidamente que não seria viável, conforme os argumentos apresentados por Lúcio na época, optando então por seguir um novo caminho.
Uma das promessas da 777 é investir na infraestrutura e modernizar os centros de treinamento da base e do profissional. Por que essas obras ainda não foram iniciadas?
O trabalho já está em andamento, apesar de não ser visível para todos. Comprometemo-nos a continuar aprimorando nossas instalações. Qualquer pessoa que visite o CT Moacyr Barbosa pode constatar as mudanças na experiência dos jogadores, enquanto dentro de São Januário as acomodações da base passaram por uma reformulação completa. Já foram investidos cerca de R$ 10 milhões, e estamos nos empenhando para iniciar soluções de longo prazo ainda neste ano.
Em sua carta aos torcedores, você destacou os pagamentos de mais de R$ 100 milhões em dívidas. Isso está seguindo o planejado para que o clube se torne autossustentável no futuro?
Como mencionei, estamos adiantados em relação ao planejado. Tornar-se autossuficiente não se resume apenas a quitar débitos puntualmente. É necessário promover uma transformação holística no modelo de negócio. Por esse motivo, estamos concentrados em aumentar as receitas, equilibrar o orçamento e administrar os custos de forma consciente. Neste novo cenário do Vasco, cada centavo gasto é avaliado visando a eficiência e a obtenção de resultados esportivos maximizados.
Qual é o planejamento para 2024? Qual a meta no Brasileirão?
Não estamos plenamente satisfeitos com os resultados esportivos até o momento. Nossa meta em 2023 era manter-nos na Série A, o que foi alcançado, mas não com a alegria devida, uma vez que nosso destino foi decidido na última partida. Estamos empenhados em nos tornarmos cada vez mais competitivos, e acredito que contamos com uma comissão técnica e um elenco capazes de alcançar tal feito. Acompanho todas as partidas. Confio no elenco, na comissão técnica e no time que construímos.
Qual considera ser o maior êxito da 777 com o Vasco até o momento? E qual o maior equívoco?
O maior sucesso foi a completa reorganização do Vasco. O que alcançamos fora de campo é extraordinário, e tenho plena confiança de que estamos construindo os alicerces para que o futebol tenha sucesso não por acaso, mas de forma consistente e contínua.
Sobre os equívocos, temos uma cultura interna de aprendizado e constante busca por evolução.
O New York Times classificou a 777 como uma “empresa enigmática” que enfrentou problemas financeiros. O que tem a responder sobre esse tema?
Participar do mundo do futebol nesse nível atrai uma grande atenção, porém é doloroso ver tantas acusações infundadas sendo direcionadas à nossa empresa. Estou confiante de que seremos avaliados de forma justa pelo nosso trabalho ao longo do tempo.
Qual mensagem você gostaria de deixar para os torcedores do Vasco?
Agradeço pela sua paixão e pelo amor ao Vasco. Vocês constituem a parte mais importante desse time, e nossa equipe trabalha arduamente todos os dias para proporcionar a vocês a equipe vencedora que merecem.
Fonte: ge