No fim, o aspecto financeiro pesou na balança da decisão pela mudança. Assinei um contrato de três anos e me juntei imediatamente à pré-temporada. Apesar de um começo promissor, a adaptação era necessária, especialmente em um clube com mentalidade de luta contra a queda, o que dificultou minha afirmação. Eu deixava para trás um time que disputava o topo do campeonato e a convocação para a seleção. Consequentemente, comecei a oscilar, alternando entre jogos e banco de reservas, algo que já ocorria em 1993, às vésperas da Copa do Mundo de 1994.
Em novembro daquele ano, fui convocado para um amistoso da Seleção no jogo contra a Alemanha, em Colônia. Após a partida, o técnico da época, Carlos Alberto Parreira, me chamou para uma conversa rápida no saguão do hotel, visto que eu já estava a caminho de Madrid.
Lembro de suas palavras: “Por que não retorna ao Brasil? Ficará mais fácil para ser observado e aumentará suas chances”.
Embora não fosse garantia de vaga na Copa do Mundo do ano seguinte, essa decisão poderia ampliar minhas oportunidades. Assim, em janeiro de 1994, acertei meu retorno ao Vasco, com o objetivo de conquistar o tricampeonato estadual. Contávamos com uma base que eu conhecia bem e a chegada de reforços como Dener e Ricardo Rocha, formando um time de alta qualidade. Regressei repleto de aspirações.
No entanto, o plano não se concretizou. Sofri uma lesão logo no início do Campeonato Carioca, em uma posição com muita concorrência de jogadores talentosos.
Quem acabou sendo convocado foi Mazinho. Mesmo sem ter sido chamado anteriormente, ele não participou da Copa América e só voltou a ser convocado nas últimas Eliminatórias. Foi um golpe duro. Imaginar estar cotado para uma Copa do Mundo na época e ficar de fora devido a uma lesão foi extremamente difícil. Apesar da insatisfação no exterior, meu retorno ao Brasil estava muito associado à possibilidade de disputar o Mundial. Que jogador não almejaria essa conquista em seu currículo, não é mesmo?
Acredito que, se houvesse uma lista de 30 convocados, eu estaria entre os candidatos. Ansiava muito por participar da Copa do Mundo de 1994 e, posteriormente, compreendi o quanto isso me fez falta ao longo do tempo.
O respeito que tinha por Zagallo, coordenador técnico na época, era imenso, assim como a consideração por Parreira, um profissional extremamente competente e inteligente, que me proporcionou diversas oportunidades. Minha primeira convocação foi em 1992 e todas foram marcantes, especialmente o torneio nos EUA, onde consegui marcar gols, mesmo não sendo minha especialidade.
Participei ainda da Copa América, ganhando destaque ao converter o pênalti decisivo na disputa contra a Argentina. Ali, percebi a confiança depositada em mim, mesmo não sendo o cobrador habitual. Em 1993, durante um exame com o Dr. Luiz Medeiros, médico da seleção na época das eliminatórias, meu nome surgiu como uma das possíveis soluções em um momento complicado para o Brasil.
Não tinha uma vaga garantida, mas estava na disputa e poderia ser uma alternativa em caso de necessidade. Compreendo essa dinâmica e não guardo ressentimentos por considerar injusto.
Saí vitorioso no tricampeonato estadual com o Vasco, porém, ao final do empréstimo, teria que retornar à Espanha. Diante da minha falta de adaptação ao ritmo do clube, e após experiências desgastantes, decidi não prolongar a passagem pelo Celta. Não completei um ano, permanecendo cerca de oito a nove meses.
Na iminência de retornar à Europa, recebi uma proposta do Corinthians, que equivalia à remuneração na Espanha, e optei por permanecer definitivamente no Brasil. Tive uma participação positiva no Campeonato Brasileiro de 1994 pelo clube.
Não guardo frustrações, pois considero minha carreira sólida e conquistei tudo que era devido.
Por Luis Carlos Quintanilha (Luisinho)
Fonte: O Globo