Há cinco anos, os olheiros do Clube de Regatas Vasco da Gama embarcaram para o Centro-Oeste do Brasil a fim de acompanhar um torneio regional. A intenção primária era analisar um defensor sobre o qual já havia informações prévias, porém retornaram ao Rio de Janeiro com outro jogador em mente. Um meio-campista que encantou em campo.
O jovem em questão atendia pelo nome de João Pedro Murilo de Paula Morais. Hoje, postulante a uma vaga entre os titulares no setor do meio-campo profissional, JP foi integrado à base do Vasco em 2019.
– Ao chegarmos lá, constatamos que o zagueiro não correspondia ao perfil desejado e foi a partir desse momento que identificamos ótimos aspectos e indicadores de evolução em João Pedro. Na ocasião, coletamos as informações e as registramos em nosso banco de dados – elucidou Luan Faria, observador do Vasco, ao portal ge.
O desfecho positivo dessa narrativa teve interferência do olheiro Luiz Bastos, descendente de Garrincha. Ele se deparou com vídeos gravados pelo pai de JP nas redes sociais e os encaminhou ao Vasco, que tomou conhecimento de que o volante já não estava mais no Goiás e buscava oportunidades no eixo Rio-São Paulo.
– Com todas as informações reunidas, avançamos e concretizamos sua contratação, tendo convicção de que se tratava de um jogador com o perfil do Vasco da Gama. JP demonstrou indicadores técnicos e mentais muito avançados para a sua idade naquela época e, com base nisso, tomamos a melhor decisão – frisou Luan, acrescentando:
– Temos um líder em campo. É um deleite vê-lo atuar. É um atleta refinado que faz falta ao futebol brasileiro.
O Vasco, então, dedicou-se a lapidar as características do meio-campista para potencializar seu talento e cultivar o que denominam de “identidade vascaína”. A influência familiar de JP, com o apoio do pai Murilo, é tida como crucial para o amadurecimento do jogador em formação.
– João Pedro está se adaptando muito bem a todo esse processo de transição, é um atleta que amadureceu rapidamente, desempenhando com destreza sua função. Ao lidar com um talento com tal magnitude, é essencial agir com cautela para não pular etapas e prejudicar o desenvolvimento do jogador – relatou Luan.

Com Payet e Guilherme Estrella em processo de recuperação no departamento médico, JP pode receber uma nova oportunidade como titular no confronto de domingo, diante do Internacional. Nas categorias inferiores, o jogador já foi utilizado na posição mais avançada do meio-campo.
No ano de 2023, quando Estrella enfrentava problemas físicos, o então treinador do sub-20, William Batista, promoveu João Pedro para a zona de criação. Até então desempenhando papéis mais defensivos, JP passou a atuar como camisa 10 e jogou nessa função nas duas partidas da final do Campeonato Carioca no ano anterior. A qualidade em finalizações e nos passes para gol levaram o treinador a utilizá-lo mais à frente em outras ocasiões.
DESCUBRA MAIS SOBRE A ATUAÇÃO DO OBSERVADOR:
ge: como se desenvolve o papel do observador no cotidiano?
Luan Faria: o procedimento de observação e mercado é exercido diariamente com visitas a projetos e clubes em todas as regiões do Brasil. Além disso, acompanhamos partidas de competições estaduais e nacionais em busca de informações sobre atletas para curto e longo prazo, embasadas em seus aspectos e indicadores.
Inicialmente, priorizamos o que o atleta faz de melhor e, a partir disso, avaliamos o que pode ser trabalhado a longo prazo, sempre pautados nos indicadores estabelecidos na metodologia e identidade do clube.
Costumo afirmar que o “Vasco é singular”. Possuímos um celeiro de talentos que em breve trará benefícios esportivos e financeiros para a agremiação.
Há alguma técnica especial na identificação do talento?
– Não existe uma fórmula mágica, porém compreendo que, mais do que identificar o talento, é crucial prospectá-lo dentro do clube. Entendo que, nesse aspecto, é essencial manter total atenção, uma vez que estamos lidando com indivíduos que possuem suas peculiaridades, especialmente do ponto de vista mental, e estão sujeitos a oscilações. Caso não haja cuidado, corre-se o risco de perder um talento em potencial.
– Por isso, a importância de contar com uma equipe multidisciplinar integrada ao cotidiano do campo. Além disso, é essencial não se concentrar no imediatismo, pois, na maioria das vezes, os atletas que apresentam maiores indicadores de mercado possuem esses sinais de forma tardia. Desse modo, é imprescindível manter equilíbrio e total atenção no processo de desenvolvimento do talento.
Há ocasiões em que possíveis reforços são descobertos pelo observador e outras em que o diretor sugere nomes para serem avaliados pelo observador… Atualmente, no Vasco, quais são os critérios dessa avaliação?
– Possuímos um banco de dados rico em informações, e esses dados são enriquecidos diariamente com demandas de jogos online e presenciais, contribuindo para a elaboração de relatórios que embasam a tomada de decisão mais assertiva.
Qual a relevância da análise de vídeos para a contratação de um atleta?
– Os vídeos são extremamente importantes para obter o máximo de informações sobre o atleta, porém nada substitui a observação dos comportamentos do jogador in loco. Sabemos que o futebol é objetivo e o mercado é competitivo. Sendo assim, é essencial reunir todas as informações e fazer o melhor para o clube.
A sugestão de nomes é recorrente?
As informações são constantes. Conversamos com toda a equipe, preenchemos e avaliamos os indicadores alinhados com a identidade do Vasco da Gama.
Fonte: ge