Após três rodadas do Brasileirão, é evidente que o Vasco está “competindo” – e talvez até merecesse mais do que os três pontos conquistados até agora no campeonato. Contudo, competir com intensidade e criar oportunidades, como visto no confronto contra o Fluminense no último sábado no Maracanã, não é o bastante. O time necessita de mais serenidade e eficácia.
O Vasco enfrentou três dos sete primeiros colocados do Brasileirão de 2023 e competiu de igual para igual com todos eles. Superou o Grêmio, teve momentos de igualdade contra o Bragantino e teve chances de igualar o placar diante do Fluminense, mesmo estando em desvantagem de 2 a 0. Entretanto, a equipe não conseguiu se manter tranquila para reverter o gol sofrido logo no início e nem teve a qualidade necessária para converter as oportunidades de gol criadas.
Ramón Díaz manteve a mesma escalação do último jogo, a derrota para o Bragantino, com exceção de Maicon no lugar de João Victor. O Fluminense abriu o marcador com um gol de cabeça de Ganso aos 10 minutos. Um enredo semelhante ao confronto anterior: um gol sofrido precocemente, com origem nas laterais, e erros determinantes. Paulo Henrique e Rossi deram espaço para Marcelo cruzar com liberdade, e Maicon falhou na tentativa de cortar a bola.
O Fluminense explorou bastante a fragilidade defensiva do Vasco pelo lado direito. Seguindo o estilo característico de Fernando Diniz, Arias alternava da ponta-esquerda para a direita, contribuindo na construção ao lado de Marquinhos. Marcelo, isolado do outro lado, recebia a bola sem marcação – uma situação inadmissível dada a qualidade do lateral, como evidenciado no gol sofrido.
Confusão entre Cocão e Ganso se espalha por todos os jogadores, e jogo é interrompido. Fechou o tempo aqui. Ambos foram amarelados. pic.twitter.com/POWMhZDZmZ
— Bruno Murito (@brunomurito) April 20, 2024
Após esse momento, a equipe comandada por Ramón Díaz não conseguiu se acalmar e impor seu jogo. O Vasco teve um início ruim, repetindo a partida contra o Bragantino. O treinador expressou em coletiva após a derrota para o Fluminense que os inícios de jogo aquém do desejado têm sido o aspecto que mais o incomoda até o momento.
Com a tática de David atuando pela esquerda e Rossi pela direita, em uma atuação fraca de Paulo Henrique e discreta de Lucas Piton, o Vasco se tornou previsível. Os meio-campistas abriam o jogo para as pontas, que buscavam cruzamentos para Vegetti finalizar na área.
Mérito ao argentino, que tentava se desvencilhar como podia, o Vasco teve oportunidades em jogadas aéreas. O camisa 99 finalizou após um cruzamento, mas teve seu chute bloqueado pelo braço de Manoel. O árbitro Wilton Pereira Sampaio não assinalou pênalti, decisão corroborada pelos responsáveis pelo VAR.
Posteriormente a essa jogada e a um desentendimento entre Cocão e Ganso, as equipes protagonizaram um confronto de muita disputa, intensidade e reclamações. Um cenário desfavorável ao Vasco, que estava em desvantagem e necessitava reagir. Galdames e Cocão tiveram atuações discretas e acabaram recebendo cartões amarelos ainda no primeiro tempo – o que comprometeu mais uma vez a capacidade defensiva da equipe.
Segundo tempo
Ramón promoveu mudanças drásticas na equipe. Galdames, Cocão e Rossi deram lugar a Hugo Moura, Rayan e Erick Marcus. O time saiu de um 4-3-3 para um 4-2-4, com David e Vegetti formando uma dupla de ataque, e os dois jovens nas pontas. As alterações surtiram efeito imediato. Mais presente no campo adversário, o Vasco pressionou o Fluminense. Em um contra-ataque, Rayan ganhou na velocidade de Manoel e teve a oportunidade clara de marcar, mas desperdiçou.
No “quem não faz, leva”, o Vasco sofreu o segundo gol logo em seguida, em mais um descuido defensivo. Martinelli ficou livre na segunda trave para ampliar o placar para o Fluminense. Facilidade na execução do cruzamento e finalização livre. Dois a zero contra.
O gol não desanimou o Vasco, que respondeu rapidamente com Vegetti. Em um lance surpreendente, com assistência de Hugo Moura, o atacante argentino se destacou, superando o goleiro Fábio.
Dessa vez, foi o Fluminense quem sentiu. Com um jogo mais vertical, o Vasco cresceu e teve chances de empatar, porém pecou na finalização, assim como diante do Bragantino. Chegou a milímetros da linha de impedimento em um gol de Vegetti, posteriormente anulado por posição irregular.
Pela característica do time, que possui um dos melhores cabeceadores do país na área, a equipe de Ramón Díaz deve explorar os lançamentos para Vegetti sempre que possível, mas sem depender exclusivamente deste recurso. Em momentos assim, a ausência de seu jogador técnico, Dimitri Payet, é sentida. Ele é o atleta que articula as jogadas e se associa, sobretudo com Piton na esquerda, diversificando o jogo da equipe que, por vezes, se torna previsível pelos cruzamentos da intermediária.
No desfecho, Clayton substituiu David, que demonstrava cansaço durante o jogo. O camisa 9 teve a oportunidade de igualar o placar nos acréscimos após boa jogada de Rayan, mas falhou na conclusão.
Essa foi a segunda derrota do Vasco em sete clássicos sob o comando de Ramón Díaz. A equipe competiu, teve chances de marcar gols que poderiam ter revertido o placar, mas não pode vacilar, como diante do Bragantino, nem se mostrar ineficaz na hora de concluir as jogadas, como diante do Fluminense. A derrota ocorreu não apenas pela falta de eficiência nas finalizações, mas também pelos espaços cedidos na defesa e pela demora em entrar no jogo.
Com a perspectiva do retorno de Payet contra o Criciúma no próximo sábado em São Januário, e com uma semana livre para treinar, Ramón Díaz identificou a necessidade da equipe em ter mais paciência e controlar o ritmo da partida.
De acordo com o técnico, a equipe está buscando ser mais vertical e dinâmica. Tanto pelo lado esquerdo quanto pelo direito, o Vasco chega mais rapidamente. Com a presença de Payet, ganha-se em tranquilidade. Os jogadores jovens estão evoluindo e precisam encontrar o timing e o equilíbrio. Isso se trabalha com o tempo. A equipe precisa de Payet, porém é imprescindível tê-lo na plenitude de sua forma física.
Agora, com o possível retorno do francês, o time necessita evoluir na construção das jogadas e vencer um adversário recém-promovido da segunda divisão. Um triunfo contra o Criciúma em casa é crucial para que o Vasco retome a conquista de pontos no Brasileirão, proporcionando tranquilidade à torcida após duas derrotas consecutivas evitáveis.
Fonte: ge