Álvaro Pacheco teve uma breve passagem pela liderança técnica do Vasco. Revelado há aproximadamente um mês, em 21 de maio, o treinador português está nos seus momentos finais no clube: após a derrota para o Juventude, pela décima rodada do Brasileirão, a diretoria aprofundou as discussões acerca da multa rescisória e se prepara para demitir o técnico.
Devido ao fechamento do aeroporto de Caxias do Sul, decorrente de um assalto a um carro-forte, o retorno do Vasco ao Rio de Janeiro foi adiado. A equipe, que originalmente retornaria após a partida, deixará a cidade gaúcha na manhã desta quinta-feira.
O presidente do Vasco, Pedrinho, não viajou para Caxias do Sul. Ele pretende se reunir com Álvaro Pacheco pessoalmente para comunicar sua demissão. O português foi selecionado e contratado pela gestão da 777 Partners.
Em um mês, Álvaro Pacheco esteve à frente do Vasco em quatro jogos, todos pela competição do Brasileirão. Foram três derrotas (para Flamengo, Palmeiras e Juventude) e um empate (com o Cruzeiro). Neste momento, a equipe ocupa a 16ª posição na tabela, com sete pontos.
Em 30 dias, o técnico português tomou decisões que desagradaram a direção do Vasco. O ge apresenta as principais abaixo.
Setor do meio de campo vulnerável
O time do Vasco sob a batuta de Álvaro Pacheco mostrou uma fragilidade acima da média no meio de campo. Nos dois primeiros jogos, contra Flamengo e Palmeiras, o técnico optou por uma formação com três zagueiros, sobrecarregando os únicos dois volantes em campo: Sforza e Galdames na primeira partida e Zé Gabriel e Galdames na seguinte.
O espaço deixado pelo Vasco na região central do campo tem sido um convite para os ataques adversários – não é à toa que o primeiro gol do Juventude na quarta-feira saiu dali, com Lucas Barbosa como autor. Houve uma leve melhoria após Álvaro alterar o esquema e reforçar o meio de campo, uma mudança inicialmente ocasionada por um incidente, já que o zagueiro Rojas sofreu uma concussão no Allianz Parque e precisou ser substituído.
De qualquer forma, o Vasco sofreu um total de 74 finalizações nesses quatro jogos, um indicador que evidencia a fragilidade defensiva.
Finalizações do Vasco de Álvaro Pacheco x finalizações dos adversários
Vasco 2 x 28 Flamengo
Palmeiras 25 x 10 Vasco
Vasco 13 x 8 Cruzeiro
Juventude 13 x 5 Vasco
Lentidão nas alterações contra o Flamengo
A histórica goleada de 6 a 1 sofrida para o Flamengo, na estreia de Álvaro à frente do Vasco, por si só já trouxe um peso para o treinador. Contudo, a forma como a derrota se desenrolou no Maracanã gerou desconforto.
O Vasco abriu o placar, teve uma boa atuação nos primeiros minutos, mas logo foi dominado pelo adversário e terminou o primeiro tempo em desvantagem de 3 a 1 e com um jogador a menos, após a expulsão de João Victor. Esperava-se que Álvaro reforçasse o meio de campo, porém ele voltou do intervalo com apenas uma substituição obrigatória, já que Rayan pediu para sair para dar lugar a Rossi.
O Flamengo seguiu dominando o jogo, marcou mais um gol com Arrascaeta logo aos seis minutos e construiu sua maior vitória na história do clássico. Álvaro só realizou novas substituições aos 13 minutos, com as entradas de Praxedes, Zé Gabriel e Paulo Henrique.
Para efeito de comparação, quando o Vasco estava perdendo por 4 a 0 no intervalo no primeiro turno do Brasileirão do ano anterior, Maurício Barbieri colocou Barros e Mateus Cocão nos lugares de Galarza e Orellano, interrompeu o domínio do rival e conseguiu equilibrar as ações – lembrando que, naquela ocasião, o Vasco estava com seus 11 jogadores em campo.
Retórica de evolução contínua
Na primeira coletiva após a goleada para o Flamengo, Álvaro Pacheco limitou-se a pedir desculpas e declarou que trabalharia para tirar o time daquela situação. Nos jogos subsequentes, o treinador manteve um discurso de evolução que, na prática, não se refletia de forma efetiva.
Após a derrota por 2 a 0 para o Palmeiras, ele disse: “Disputamos com o Palmeiras em um nível forte. Mesmo perdendo, nunca deixamos de competir. Equiparamos a posse de bola. O crescimento deve ser gradual. Estamos desapontados com o resultado. Em relação ao jogo contra o Flamengo, a equipe foi mais sólida”.
No empate com o Cruzeiro, de fato o momento em que o Vasco mais demonstrou sob a liderança do português, a fala foi a seguinte: “Consciente de que as coisas no futebol não mudam de imediato. Não possuo uma fórmula mágica para chegar aqui e fazer a equipe jogar do jeito que deve jogar. Vejo sinais de progresso no time, na dedicação, no envolvimento, indicadores que me animam em relação ao futuro do Vasco”.
Por fim, após a derrota para o Juventude: “Discordo quando você afirma que não houve evolução, acredito que, mesmo não tendo sido um jogo muito bem construído por nossa parte, não faltou empenho, entrega, vontade de buscar o gol. Concordo com você: não foi da maneira mais correta, não como treinamos”.
Mudanças repentinas
A inconsistência de Álvaro Pacheco na definição dos convocados para as partidas não foi compreendida nem pelos dirigentes, nem pelos próprios jogadores.
O atacante David, que era titular antes da chegada de Álvaro, nem sequer foi relacionado para o clássico contra o Flamengo. Já na partida seguinte, contra o Palmeiras, ele iniciou como titular. O volante Mateus Cocão também passou por situação semelhante: ficou no banco contra o Flamengo, foi excluído do grupo que enfrentou o Palmeiras e acabou sendo utilizado nas duas partidas seguintes.
Preferências individuais
Algumas preferências contribuíram para o desgaste de Álvaro Pacheco, principalmente perante a torcida. As escolhas de Rossi, titular em três dos quatro jogos sob seu comando no Vasco, e de Galdames, presente em todas as partidas, estão entre os exemplos. No caso do volante chileno, os elogios à sua atuação no empate com o Cruzeiro também repercutiram negativamente entre os torcedores.
Além disso, João Victor, a contratação mais cara do Vasco na última janela, atuou somente nos primeiros 45 minutos do clássico com o Flamengo. Ele não jogou contra o Palmeiras por estar suspenso, mas foi mantido no banco por opção do treinador nos confrontos diante de Cruzeiro e Juventude.
Fonte: ge