Após deixar o Vasco há dez dias, Pedro Martins fez uma análise de sua passagem pelo clube em uma entrevista ao “Charla Podcast”. O ex-diretor executivo afirmou que a mudança na direção da SAF, com a saída judicial da 777 Partners e a entrada do clube associativo, gerou instabilidade no ambiente futebolístico e afetou o desempenho do técnico Álvaro Pacheco, que foi demitido após quatro partidas.
– No momento em que as negociações avançavam, houve uma intervenção judicial que retirou a 777 do poder e inseriu o clube associativo. Ele me pergunta: “Devo embarcar ou não?”. Essa decisão gerou uma instabilidade natural no ambiente interno. Pedro se esforçou para acalmar os ânimos. Entretanto, acreditar que isso não afetou o trabalho de Álvaro é ingênuo. Ele foi impactado pela incerteza e pelo processo de adaptação ao futebol brasileiro. Estreou sofrendo uma goleada do Flamengo. Ele pegou um cenário de mudança de gestão e os dois primeiros jogos foram contra Flamengo e Palmeiras. Essa situação de mudança via justiça é incomum – disse Pedro.
– Minha avaliação pessoal era que deveríamos ter dado mais tempo para que a estabilidade organizacional auxiliasse. Seria capaz de gerar resultado? Não tenho certeza. Ninguém esperava levar 6 gols do Flamengo. A saída de Álvaro teve um impacto, mas minha saída não foi apenas por conta disso. Falei: “Discordo da saída de Álvaro, mas minha permanência aqui não será mais viável”. Estaríamos direcionando energia de forma equivocada. Entendendo que seria necessário que o clube tivesse um pouco de paz, permaneci por mais 15 dias para transferir as responsabilidades e finalizar algumas negociações. Foi um processo pacífico, pois acredito que o Vasco precisa de tranquilidade para apresentar resultados – acrescentou o dirigente.
Pedro Martins teve sua estadia mais breve em um clube durante sua passagem pelo Vasco. O diretor de futebol permaneceu no cargo por menos de dois meses. Anunciado em 1º de maio, sua primeira tarefa foi buscar um novo treinador após a saída de Ramón Díaz. Após duas semanas, ele e o ex-CEO Lúcio Barbosa contrataram o português Álvaro Pacheco.
Entrevista com a 777 Partners
– Conversei com Lúcio, Nicolas e Johannes. Eles me contaram sobre as lições aprendidas desde que chegaram ao Vasco: “Cumprimos a primeira etapa, que era permanecer no primeiro ano, e agora precisamos tomar decisões mais alinhadas ao futuro”. Queriam reequilibrar o elenco com a chegada de novos talentos, investir na base, estruturar as categorias de formação, reorganizar a folha salarial, pois viam a distribuição financeira como inadequada. Senti que seria coerente dar o próximo passo e que meu ciclo no Cruzeiro estava se encerrando.
– Eles solicitaram auxílio para a operacionalização do departamento de futebol. Todas as conversas com a 777 foram pensadas no futuro do Vasco. Contribuir para a organização da equipe principal e construir um clube capaz de vender jogadores para o alto escalão.
Busca por um novo treinador como prioridade
– Quando cheguei, fui surpreendido com a situação de Ramón Díaz. Precisei entender o ambiente, as pessoas, dediquei muito tempo para conversar e identificar o perfil ideal de treinador. Me informaram que ele pediu demissão no vestiário e não sei o que levou à retratação posterior que foi relatada. Iniciei com Rafael Paiva como interino. Conversando diariamente com a 777, definindo perfil e orçamento, buscando uma equipe mais agressiva, com um estilo de jogo mais vertical. A partir disso, listamos os principais treinadores e consultamos de forma informal para chegar a uma lista reduzida. Os treinadores emergentes eram os mais disponíveis e interessados. Após análises, chegamos ao nome de Álvaro Pacheco. Emergente, porém com uma temporada sólida no Vitória de Guimarães.
Instabilidade financeira do clube
– Vi um grande esforço de Pedrinho em busca de viabilidade financeira, visando também a futuras vendas. Percebi que ele desejava maior envolvimento com o futebol, porém estava dedicando muito tempo para viabilizar financeiramente o clube. Os salários estão em dia, mas há pendências com luvas, comissões, aquisições… Estavam buscando soluções. A estrutura estava montada pensando no suporte da 777. Pedrinho estava buscando alternativas para equacionar isso. Houve um aumento na folha salarial e, em algum momento, será necessário equilibrá-la, seja com novas receitas ou com a saída de jogadores.
Por que não estava presente no estádio durante a goleada sofrida para o Flamengo?
– Ao iniciar, tinha a meta de reduzir os custos da folha salarial. Organizamos uma viagem minha para uma conferência, que seria crucial para possíveis vendas de jogadores. No final de semana da partida contra o Cruzeiro, o campeonato foi suspenso devido às enchentes no Rio Grande do Sul, o que alterou os planos. A viagem coincidiu com o clássico contra o Flamengo. Pensei em cancelar, porém era essencial para o equilíbrio financeiro e possíveis transferências. Não estive no jogo, acompanhei do voo, o que tornou ainda mais doloroso para mim. O ambiente no CT sofreu bastante após aquela derrota.
A decisão de Pedrinho foi acertada?
– O tempo dirá, é muito complicado avaliar se foi correto ou não. Até hoje não compreendemos completamente o papel da 777 em termos de gestão financeira e a possibilidade de cumprir com o que constava no contrato. Pedrinho afirmou que não queria fazer, mas era necessário. Em minha opinião, será fundamental que o Vasco tenha um novo proprietário.
Fonte: ge