Recentemente, foi oficializado que estádios com capacidade para pelo menos 20 mil torcedores devem implementar tecnologia de reconhecimento facial para o acesso do público em seus eventos. A nova lei do esporte, divulgada em 14 de junho de 2023, concede um período de dois anos para que as arenas se adaptem a essa norma. O artigo 148 é o responsável pela obrigatoriedade:
Art. 148. O controle e a fiscalização do acesso do público a arena esportiva com capacidade para mais de 20.000 (vinte mil) pessoas devem incluir monitoramento por imagem nas catracas e identificação biométrica dos espectadores, além de uma central técnica de informações, capaz de possibilitar o monitoramento da presença do público e o cadastramento biométrico dos espectadores.
Nas últimas semanas, o ge entrou em contato com mais de 60 estádios em todo o Brasil para investigar como está a implementação da tecnologia em cada um deles. De modo geral, a maioria já possui a tecnologia ativa em todos ou na maior parte de seus setores, visando aumentar a segurança e inibir fraudes nos ingressos durante grandes eventos.
Carrossel reconhecimento facial nos estádios — Foto: Infoesporte
A pausa no campeonato da Série A devido à Copa do Mundo de Clubes também permitirá que algumas arenas, como a Neo Química Arena em São Paulo, finalize a instalação da tecnologia de reconhecimento facial nas catracas de acesso.
A Imply, uma das principais empresas de tecnologia do setor no Brasil, já implementou essa tecnologia em mais de 10 estádios. Conversamos com Tironi Ortiz, CEO da empresa, para entender como a tecnologia funciona e quais são os custos envolvidos na sua implantação.
O investimento total para um estádio com capacidade de 40 mil pessoas pode chegar a três milhões de reais, dependendo da estrutura já presente no local. Caso haja uma infraestrutura básica, o custo pode ser reduzido. O valor varia entre um milhão e três milhões de reais, conforme o tipo de equipamento adquirido.
– O preço depende do número de equipamentos e se as catracas já estão instaladas, pois, ao personalizar com módulos leitores, o custo muda. Se o estádio já possui servidores, eles também são considerados. Em algumas situações, o estádio já possui servidores com custo significativo – explicou Tironi.
Existem diversas soluções de comercialização do sistema. Alguns estádios preferem pagar por acesso, enquanto outros optam pela compra do equipamento e, em seguida, pagam por serviços como o cadastramento biométrico. Isso varia de cliente para cliente.
Entre os estádios que fornecem informações sobre os custos, o Kleber Andrade se destacou, com investimentos superiores a cinco milhões de reais (confira mais detalhes no final do texto).
O CEO da Imply destacou que o sistema utiliza inteligência artificial com algoritmos que analisam mais de 100 pontos faciais de cada torcedor. A Imply foi pioneira em se integrar ao sistema CORTEX do Ministério da Justiça para validar os dados dos espectadores. Durante o registro inicial, o usuário envia uma foto e um documento, que são validados através de inteligência artificial, assegurando que não haja fraudes.
– Nosso sistema, Imply Eleven Tickets, possui uma acuracidade de 99,9%. É a única empresa brasileira com a certificação ISO 27001, que garante a segurança das informações. Os dados são de propriedade do clube, que pode usá-los para colaborar com as forças de segurança. Estamos integrando nossa solução ao sistema de CFTV dos estádios.
– Com isso, é possível rastrear a localização dentro do estádio. Se um torcedor entrou no Castelão, por exemplo, conseguimos saber exatamente onde ele está sentado, o que melhora a segurança – explicou Tironi.
Biometria Facial na Arena Castelão — Foto: Davi Rocha / SVM
Veja a situação atual dos estádios com capacidade acima de 20 mil torcedores:
- Capacidade: 73.609 pessoas
- Operação: 100% facial em todos os setores até o fim de junho.
Mané Garrincha
- Capacidade: 72.000 pessoas
- Operação: já possui reconhecimento facial em alguns setores e está testando a implementação completa, com a expectativa de estar pronto para a Copa do Mundo Feminino de 2027.
Morumbi
- Capacidade: 65.000 pessoas
- Operação: 100% desde 24 de maio; já contava com monitoramento por imagem antes do reconhecimento facial.
Castelão (CE)
- Capacidade: 63.904 pessoas
- Operação: instalação das catracas de reconhecimento facial finalizada com a ajuda da Imply.
- Capacidade: 61.890 pessoas
- Operação: 100% implementado em todas as 128 catracas.
Nota do estádio:
O sistema foi desenvolvido pela equipe de tecnologia do estádio, cumprindo a Lei Geral de Proteção de Dados. A partir de abril deste ano, o Mineirão começou a solicitar cadastramento biométrico para ingressos nas áreas de hospitalidade.
A operação do sistema de biometria facial requer colaboração da tiqueteira do Cruzeiro para outros setores do estádio. O Mineirão possui mais de 400 câmeras de vigilância, disponíveis para autoridades em investigações quando necessário.
- Capacidade: 55.662 pessoas
- Operação: em funcionamento.
Beira-Rio
- Capacidade: 50.842 pessoas
- Operação: 100% desde 1º de junho, exceto na área do Coração do Gigante, que recebeu a tecnologia recentemente.
Neo Química Arena
- Capacidade: 48.905 pessoas
- Operação: em andamento, sem jogos até 12 de julho, prazo suficiente para a regularização.
Casa de Apostas Arena Fonte Nova
- Capacidade: 48.661 pessoas
- Operação: 100% desde 7 de junho, com suporte online para cadastramento de usuários.
Prudentão
- Capacidade: 45.954 pessoas
- Operação: o estádio não confirmou se houve regularização da tecnologia.
Arena de Pernambuco
- Capacidade: 45.500 pessoas
- Operação: fase final para assinatura de contrato, com infraestrutura para o equipamento.
- Custo: R$ 1.375.000,00, incluindo seis meses de suporte total.
Arena MRV
- Capacidade: 44.892 pessoas
- Operação: em funcionamento.
Arena da Amazônia
- Capacidade: 44.300 pessoas
- Operação: encaminhado para abrir licitação, sem confirmação sobre a sua operação.
Allianz Parque
- Capacidade: 43.000 pessoas
- Operação: pioneiro em implementar acesso por biometria facial em 100% do estádio, sem funções de reconhecimento facial nas câmeras de vigilância.
Nilton Santos (Engenhão)
- Capacidade: 42.661 pessoas
- Operação: em funcionamento.
Ligga Arena
- Capacidade: 42.372 pessoas
- Operação: em funcionamento.
Serra Dourada
- Capacidade: 42.372 pessoas
- Operação: 100% com reconhecimento facial durante o Campeonato Goiano; monitoramento independente.
Mangueirão
- Capacidade: 42.000 pessoas
- Operação: em licitação para gerenciar o sistema de biometria facial.
- Capacidade: 41.000 pessoas
- Operação: a partir de janeiro de 2024, aceita apenas biometria facial.
- Custo: R$ 1.160.000,00.
Informações enviadas pelo estádio:
Canais de cadastramento biométrico:
- a) Aplicativo Facepass
- b) Portal online de cadastro
- c) Maquininhas de cartão para cadastro simplificado e venda de ingressos
Bilheteria facial exclusiva: entrada exclusivamente por biometria.
Suporte ao torcedor:
- Sala de atendimento presencial no estádio e suporte via WhatsApp.
Centro de videomonitoramento inteligente:
Estrutura vinculada ao governo, em processo de integração com o módulo Guardian do Facepass, utilizando inteligência artificial para detectar situações de emergência e segurança.
Arena Pantanal – Série B — Foto: Gabriel Barros
Couto Pereira
- Capacidade: 40.502 pessoas
- Operação: 100% em todos os setores.
Pacaembu
- Capacidade: 40.199 pessoas
- Operação: sistema móvel conforme demanda, com empresa responsável
Castelão (MA)
- Capacidade: 39.622 pessoas
- Operação: não confirmou se a tecnologia foi regularizada.
Parque do Sabiá
- Capacidade: 36.276 pessoas
- Operação: em estudos para a implantação da tecnologia; a regularização dependerá da demanda.
Albertão
- Capacidade: 36.276 pessoas
- Operação: gestão em transição, sem informação sobre seu funcionamento atual.
Arena Barueri
- Capacidade: 31.452 pessoas
- Operação: fechado para obras, com expectativa de implementar biometria.
Casa de Apostas Arena das Dunas
- Capacidade: 31.375 pessoas
- Operação: em implantação desde o início de 2023, com tecnologia disponível em todas as catracas até junho de 2025.
– A implementação melhorou a eficiência do acesso e a segurança dos torcedores, que não precisam mais levar ingressos impressos – afirmou Mateus Gurgel, diretor de operações da Arena das Dunas.
Arena das Dunas, reconhecimento facial — Foto: Divulgação
Barradão
- Capacidade: 31.000 pessoas
- Operação: iniciado em agosto de 2024, com atividades 100% por biometria. As operações de controle são realizadas por empresas diferentes.
Arruda
- Capacidade: 30.000 pessoas
- Operação: 100% em todas as catracas do estádio.
Arena Nicnet (Santa Cruz)
- Capacidade: 29.585 pessoas
- Operação: ativa desde abril de 2025 pela Imply.
Ilha do Retiro
- Capacidade: 26.345 pessoas
- Operação: 100% em todos os setores do estádio.
Ipatingão
- Capacidade: 22.500 pessoas
- Operação: sistema móvel segundo a demanda; a central de vídeomonitoramento está integrada com a segurança local.
– As empresas qualificadas têm facilitado a montagem do sistema rapidamente – disse Carlão Oliveira, secretário de esportes de Ipatinga.
Estádio Ipatingão — Foto: Prefeitura de Ipatinga
Independência
- Capacidade: 22.044 pessoas
- Operação: 100% em todas as catracas do estádio.
- Capacidade: 21.419 pessoas
- Operação: 100% em todas as catracas. Primeiro no Rio a adotar tecnologicamente todos os pontos de acesso.
Kleber Andrade
- Capacidade: 21.252 pessoas
- Operação: em fase de instalação, sem jogos programados até a conclusão. O custo total é de R$ 5.458.782,00, com garantia de 10 anos.
Canindé
- Capacidade: 21.004 pessoas
- Operação: primeiros cadastros para torcedores em andamento; o sistema está em implementação.
Estádio Canindé, da Portuguesa — Foto: Dorival Rosa / Portuguesa
Brinco de Ouro
- Capacidade: 20.580 pessoas
- Operação: iniciado em 2024, em testes; a meta é até o final do ano ter 100% facial.
Luso-Brasileiro
- Capacidade: 20.215 pessoas
- Operação: adquiridas cinco catracas para reconhecimento facial; cadastro em andamento.
Fonte Luminosa
- Capacidade: 20.205 pessoas
- Operação: trabalhando na implementação da tecnologia; os promotores podem utilizar serviços de empresas especializadas.
Presidente Vargas (CE)
- Capacidade: 20.166 pessoas
- Operação: conclusão da implantação até 8 de agosto, com sistemas financeiros para os setores.
O cronograma prevê a implementação gradual do sistema nas seguintes datas:
- Setor Laranja – até 1º de julho
- Setor Azul – até 8 de julho
- Setor Amarelo – até 15 de julho
- Instalação das câmeras analíticas – a partir de 22 de julho
- Conclusão da implementação total – até 8 de agosto de 2025
Após a conclusão, o estádio só receberá público em setores equipados. Até 30 de setembro de 2025, o reconhecimento facial será necessário para todos os eventos.
Reconhecimento Facial, PV, Presidente Vargas — Foto: Brenno Rebouças/SVM
Almeidão
- Capacidade: 20.000 pessoas
- Operação: implantação prevista para o segundo semestre; sem informações sobre fechamento.
Amigão
- Capacidade: 20.000 pessoas
- Operação: gestão sem informações sobre a licença de reconhecimento facial, com venda restrita.
Arena Condá
- Capacidade: 19.351 pessoas
- Operação: não será implementado o sistema por enquanto, mas haverá câmeras de segurança em operação.
Aflitos
- Capacidade: 18.694 pessoas
- Operação: 100% com reconhecimento facial.
Alfredo Jaconi
- Capacidade: 18.413 pessoas
- Operação: em funcionamento.
Centenário (RS)
- Capacidade: 18.197 pessoas
- Operação: cadastro de reconhecimento facial para funcionários, mas não para torcedores.
Vila Belmiro
- Capacidade: 15.500 pessoas
- Operação: 100% com reconhecimento facial, completado em 2024, interligado à segurança pública.
– O sistema de reconhecimento facial tem sido fundamental contra fraudes e em prol da segurança dos torcedores – destacou Marcelo Teixeira, presidente do Santos.
Bezerrão (DF)
- Capacidade: 13.000 pessoas
- Operação: em estudos para implantar tecnologia de reconhecimento facial; sem custos fixados.
Pituaçu
- Capacidade: 10.000 pessoas
- Operação: em fase de levantamento de necessidades para implementação do sistema de reconhecimento facial.
Municipal Juiz de Fora
- Capacidade: 10.000 pessoas
- Operação: sem previsão para implementar tecnologia; exigências para acesso a partir de 20 mil.
Nota da Secretaria de Esportes de Juiz de Fora:
Atualmente, não há expectativa para a tecnologia no Estádio Municipal de Juiz de Fora, que recebe no máximo 10 mil torcedores. Para jogos com mais de 10 mil, deverá ser feito um novo laudo de segurança.
O reconhecimento facial se tornará uma exigência para clubes que querem utilizar o estádio com públicos a partir de 20 mil torcedores, tendo até então poucos requisitos legais.
Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, Juiz de Fora — Foto: Bruno Ribeiro
Além dos estádios mencionados, o ge também contatou outras arenas com capacidade abaixo de 20 mil pessoas, como Arena América e Arena da Floresta. Nenhum opera com tecnologia de reconhecimento facial atualmente.
Fonte: ge