– Durante o treino, o preparador físico Daniel me questionou se ainda havia chances de ser convocado, respondi que não, visto que a lista já havia sido divulgada. Contudo, notei uma movimentação estranha, com a presença do presidente Jorge Salgado e membros da comissão técnica se comunicando… Fiquei sem entender. Antes do treino, o presidente e o Pássaro (então diretor de futebol) me deram a notícia da minha convocação – relatou Ricardo Graça ao ge, emocionado. Em seguida, acrescentou:
– Não contive as lágrimas. Embora tenha participado do Pré-Olímpico, sendo titular contra a Argentina no último jogo, eu sabia que não estava no meu melhor momento e que outros estavam à minha frente na seleção. Já tinha perdido as esperanças. Ser convocado foi um dos dias mais felizes da minha vida.
O desempenho aquém no Pré-Olímpico, com a classificação conquistada apenas na última rodada, deixou a Seleção Brasileira sob desconfiança ao chegar ao Japão em 2021 – lembrando que os Jogos foram adiados em um ano devido à pandemia de Covid-19. Como atual campeão olímpico, o Brasil buscava defender o título do outro lado do mundo.
– O grupo apresentava uma união ímpar. Não havia vaidade nem divisões entre os jogadores. Eu e Lucão (goleiro do Vasco) éramos os únicos representantes da Segunda Divisão. No entanto, todos reconheciam meu potencial. Apesar de o Brasil ser sempre considerado favorito, nossa participação no Pré-Olímpico não fora brilhante, o que gerou desconfiança antes da estreia contra a Alemanha. Porém, vencemos por 4 a 2 de forma categórica. Não havia receios ou inseguranças da nossa parte. Mesmo os que não estavam entre os titulares, como eu, sabiam que poderiam ser decisivos a qualquer momento. A trajetória foi mais tranquila do que no Pré-Olímpico. Todos estavam confiantes na conquista do título diante da Espanha – recordou Ricardo, complementando:
– É curioso ver o Brasil ausente este ano, dado seu histórico de excelência no futebol e o fato de sermos bicampeões, conquistando as últimas duas edições das Olimpíadas. A ausência do atual bicampeão na disputa pelo tricampeonato é estranha.
O Brasil sagrou-se campeão com uma vitória por 2 a 1 sobre a Espanha, conquistando assim sua segunda medalha de ouro na modalidade, após o feito de 2016 nos Jogos do Rio de Janeiro. Apesar de não ter entrado em campo na campanha vitoriosa de 2021, a experiência influenciou a decisão de Ricardo Graça de deixar o Vasco e atuar no Jubilo Iwata, no Japão, no final daquele ano.
– Minha participação nos Jogos Olímpicos me permitiu vivenciar de perto a organização impecável. O ambiente é acolhedor, as estruturas funcionam perfeitamente… À época, o Vasco ainda não contava com o SAF e, devido à visibilidade das Olimpíadas, despertei interesse no mercado. Surgiu a proposta do Japão e a negociação foi concluída rapidamente, em apenas uma semana. Todas as nossas condições foram atendidas e, apesar do desafio do fuso horário, tudo ocorreu de forma ágil – afirmou o ex-jogador do Vasco, destacando ainda:
– A experiência com a Seleção Nacional foi determinante para minha escolha. É fácil se adaptar a algo positivo. Aqui, minha única preocupação é jogar futebol. Embora haja cobranças, se eu perco um jogo, posso andar tranquilamente nas ruas sem ser incomodado, pois as pessoas são muito respeitosas. É um país singular. Minha esposa adora viver aqui e não tem planos de retornar no momento. Minha filha desfruta de um ambiente educacional e seguro que não se encontra em qualquer outro lugar.
Mesmo com um fuso horário de 12 horas à frente de Brasília, o zagueiro encontra tempo para relembrar sua passagem pelo Vasco e acompanhar as partidas do clube que o revelou. Mantém-se atualizado sobre as notícias do clube e recebeu com entusiasmo a contratação de Philippe Coutinho.
– Desde a época do colégio, ouvia falar muito sobre Coutinho e sua geração, incluindo Alex Teixeira, Souza… Acompanho sempre o Vasco, estive presente em São Januário no último jogo do ano passado, contra o Bragantino. Às vezes, devido ao fuso horário, não consigo assistir aos jogos ao vivo, mas assisto depois e acompanho as discussões. Mantenho contato com funcionários do Vasco até os dias atuais – afirmou.
– Essa contratação é uma mensagem aos investidores de que o Vasco está se reerguendo, especialmente porque o clube planeja vender o SAF atualmente. Para o torcedor, é a esperança de ver um prata da casa retornar. Embora a torcida não tenha acompanhado de perto sua trajetória no Vasco, torceu por ele enquanto esteve na Europa e na seleção brasileira. A chegada de um jogador do calibre dele, em uma idade ideal, com sua técnica, tem tudo para ser bem-sucedida. A presença de Felipe, por sua vez, já mudou o ambiente, transmitindo mais confiança aos jogadores – finalizou o zagueiro.
Ricardo Graça, 27 anos, despontou no Vasco em 2017, permanecendo no clube até o final de 2021, quando se transferiu para o Jubilo Iwata. Pela equipe japonesa, ele acumula 21 partidas e um gol em 2024.
Fonte: ge