Na coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira, o presidente do Vasco, Pedrinho, acusou Jorge Salgado, seu predecessor, de não ter acionado uma cláusula do contrato relacionado à SAF, que permitiria ao clube recomprar ações da 777 com um pagamento de apenas R$ 1 mil.
Entretanto, Jorge Salgado, em resposta ao ge, refutou a acusação e argumentou que Pedrinho foi quem deixou essa oportunidade escapar (veja a íntegra das declarações de ambos no final do texto).
Durante a entrevista, Pedrinho também foi questionado sobre as intenções da diretoria na janela de transferências. Ele se referiu especificamente à possibilidade de um grande investimento em contratações, ou se seria melhor repartir o investimento entre vários jogadores.
— Na cláusula do contrato feito com a 777, houve um aporte que não foi realizado, dando a chance ao ex-presidente de reintegrar ações não integralizadas por apenas R$ 1 mil. Isso garantiria ao clube o controle majoritário. Ele não fez uso dessa opção — disseram as palavras de Pedrinho em referência a Jorge Salgado.
Pedrinho é o atual presidente do Vasco — Foto: Mateus Bonomi/AGIF
Durante a gestão de Salgado, que esteve à frente do clube de janeiro de 2021 a janeiro de 2024, a 777 Partners atrasou um aporte previsto para setembro de 2023. O Vasco notificou a empresa, que regularizou a pendência em parcelas, respeitando um prazo de 30 dias.
De acordo com Salgado, sua administração atuou dentro das normas contratuais, já que não poderia ativar a cláusula de recompra das ações sem notificar a 777 e conceder um prazo para resolver o pagamento. Ele argumentou que Pedrinho teve a chance de recomprar a participação da 777 por R$ 1 mil.
— Ao contrário do que disse Pedrinho, na verdade, quem perdeu a oportunidade de retomar as ações não integralizadas da Vasco SAF por R$ 1 mil foi ele, ao romper o contrato três meses antes do vencimento do aporte de R$ 300 milhões, previsto para setembro de 2024 — declarou Jorge Salgado.
Jorge Salgado, ex-presidente do Vasco — Foto: André Durão
A gestão atual de Pedrinho moveu uma ação judicial contra a 777 no Rio de Janeiro, que resultou em uma liminar favorável ao clube associativo, afastando a empresa americana do controle da SAF do Vasco em 15 de maio de 2024.
Veja as declarações de Pedrinho durante a coletiva:
— As transferências não pagas pela 777 acarretam em custos de contratações. Para exemplificar, eles gastaram R$ 300 milhões em contratações mas deixaram de pagar R$ 200 milhões. Essa responsabilidade é nossa. “Ah, mas ninguém colocou uma arma na sua cabeça para eu assumir”. Eu fui eleito para ser presidente da associação, correto? Contudo, no contrato com a 777, o ex-presidente poderia reintegrar ações não integralizadas por R$ 1 mil. Ele não exerceu essa opção e tinha uma cláusula que permitia esperar 30 dias para regularizar o pagamento, o que foi feito. Por que ele não executou os R$ 1 mil para reaver as ações? Porque entregou o clube em uma situação financeira complicada e já teve um investimento em contratações da 777, e se ele pegasse o clube de volta teria ainda mais dívidas.
— Tivemos que tomar uma posição contrária a isso. Entramos com a ação sabendo que essa dificuldade financeira recairia sobre mim. Eu não tive medo, mesmo não entendendo juridicamente, e acreditei no nosso jurídico. A ação foi para proteger o Vasco de um possível colapso financeiro. E quando falamos sobre isso, muitos mencionam política e isso me desaponta. Que não haja viés político, mas sim entendimento da realidade. Fato é que muitas despesas poderiam ser utilizadas para contratações.
Veja as declarações de Jorge Salgado ao ge:
“Sobre a coletiva do presidente Pedrinho do dia 24/7, considero necessários os seguintes comentários:
1. Não é verdade que eu, como presidente, tive a chance de recomprar as ações não integralizadas da Vasco SAF por R$ 1 mil, em decorrência do não pagamento de um aporte da 777 Partners, e que decidi não fazê-lo.
2. Durante meu mandato, a 777 realizou todos os aportes contratualmente previstos. Em setembro de 2023, houve um atraso que levou à notificação formal do CRVG, iniciando o processo que poderia culminar na compra das ações não integralizadas por R$ 1 mil. Após a notificação, a 777 regularizou o aporte, impossibilitando a recompra das ações naquele momento.
3. É importante destacar que o contrato permitia o prazo de 30 dias para sanar atrasos apenas uma única vez, o que significa que, em caso de futuros inadimplementos da 777, o CRVG teria a chance de aquisição imediata das ações não integralizadas por R$ 1 mil.
4. Ao contrário do que afirmou o atual presidente, quem perdeu a chance de recomprar as ações foi ele, ao decidir romper o contrato antes do vencimento do aporte de R$ 300 milhões em setembro de 2024. Naquele momento, as dificuldades financeiras da 777 já eram públicas, e bastaria aguardar a data de vencimento para exercer o direito de recompra, evitando assim riscos legais.
5. A alegação de que “entramos com a ação para proteger o Vasco de um possível colapso financeiro” não se sustenta. Na situação de falência da 777, apenas os 31% já integralizados e pagos estariam sob risco. Neste cenário, o CRVG estaria no controle da empresa, com 69% do capital. Além disso, o contrato previa uma cláusula de drag along, que obrigava a 777 a vender suas ações nas mesmas condições acordadas com futuros investidores da Vasco SAF, facilitando a atração de novos investidores, se essa fosse a intenção da atual diretoria”.
Fonte: ge