Essa mobilização faz parte de um movimento iniciado em janeiro, que foi retomado após 100 dias sem respostas dos dirigentes do clube sobre a transparência da atuação de Belaciano nas negociações com credores trabalhistas durante o processo de recuperação judicial do clube e da SAF.
Sede da Lagoa, onde se reúne o Conselho Deliberativo do Vasco — Foto: Tébaro Schmidt / ge
No dia 18 de janeiro, João Riche deu a Belaciano um prazo de 15 dias para esclarecimentos. Esse prazo foi prorrogado por mais 30 dias, totalizando 115 dias desde o primeiro pedido de explicações dos sócios.
O ge tentou contato com a assessoria de imprensa do Vasco para saber se haveria uma resposta ao ofício enviado a Pedrinho, Riche, Belaciano, ao presidente do Conselho Fiscal, João Amorim, e ao presidente do Conselho de Beneméritos, Luis Manoel Fernandes, mas não obteve retorno.
Os ofícios enviados na última sexta-feira são assinados por sete conselheiros eleitos junto com Pedrinho e um suplente, o ex-médico do Vasco Clóvis Munhoz. No documento, os sócios solicitam ao presidente do Conselho Deliberativo, João Riche, a criação de uma comissão de inquérito para investigar o caso.
“…há indícios de que o Sr. Alan Belaciano atuou em ‘dois lados’ em questões sensíveis ao Clube: por um lado, representando interesses de credores em ações judiciais contra o CRVG, e por outro, participando de negociações em nome do próprio CRVG e, possivelmente, da Vasco da Gama SAF, para resolver passivos trabalhistas. Se confirmado, isso configuraria um grave conflito de interesses, violando princípios de lealdade e cuidado com o patrimônio do Vasco, além de possivelmente configurar uma gestão inadequada conforme nosso Estatuto”, diz um trecho do novo documento.
João Riche já havia instaurado duas comissões de inquérito em junho de 2024: uma para investigar a venda da 777 durante a gestão do presidente Jorge Salgado, e outra para apurar a gestão de Alexandre Campello, com prazo inicial de 120 dias, podendo ser prorrogado por mais 120 dias. Até agora, já se passaram mais de 320 dias desde a criação dessas comissões, sem que um relatório tenha sido apresentado ao Conselho Deliberativo do Vasco.
Um dos ofícios também foi direcionado a Pedrinho e mencionou uma declaração sobre o caso – “o Alan pode explicar melhor sobre isso aí, mas ele já saiu” – pedindo esclarecimentos formais sobre o afastamento dos credores trabalhistas, informações sobre a procuração concedida a Belaciano para representá-los nas negociações e uma “análise comparativa” dos descontos negociados com credores que já foram clientes de Belaciano.
Saiba mais sobre o caso
O movimento dos sócios foi iniciado após um levantamento do sócio José Américo, que comparou os planos de pagamento das dívidas trabalhistas do Vasco com os de outros clubes. Segundo seus cálculos, baseando-se em processos semelhantes de recuperação judicial e desconsiderando descontos para credores com saldo até 150 salários mínimos (cerca de R$ 211 mil) e aplicando um desconto de 75% para quantias acima deste valor, o Vasco poderia economizar R$ 144 milhões.
No plano de pagamentos apresentado pelo clube, a expectativa de economia era de R$ 100 milhões, com limite de pagamento de R$ 5 milhões aos credores. Entenda aqui.
A análise também identificou que Alan Belaciano participou de 80% das audiências em processos trabalhistas de ex-clientes, conforme informações disponíveis no site do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro.
Em 10 de janeiro, o ge publicou sobre o plano do Vasco para a quitação de dívidas trabalhistas, que foi, posteriormente, incorporado no plano de pagamentos a ser analisado na Recuperação Judicial no judiciário. O plano não prevê deságio para a maioria dos credores, mas estabelece um pagamento limite de até R$ 5 milhões, além da destinação de 6% de receitas extraordinárias, como vendas de jogadores, para quitar essas dívidas ao longo de 10 anos.
Fonte: ge