“Eu me assumi, sou flamenguista e apoiei o Mengão. Contudo, por ter jogado no Vasco e Botafogo, tenho um carinho especial pelo Vasco.”
🎙️ Thiago Galhardo, em entrevista ao Sportv.
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Fonte: X Planeta do Futebol
Thiago Galhardo critica a falta de coragem entre os jogadores, compartilha conflitos e revela sacrifícios pela Seleção
Thiago Galhardo é um jogador incomum, difícil de rotular. Em uma entrevista de mais de uma hora ao Abre Aspas, no Recife, ele revelou suas vulnerabilidades, qualidades, conflitos e uma personalidade rara no futebol.
Vindo de uma família de classe média alta e sem enfrentar dificuldades típicas de quem sonha com o futebol, ele decidiu deixar um emprego estável na Petrobras para jogar por clubes como Botafogo, Vasco, Internacional e Celta de Vigo, além da seleção brasileira.
– Para muitos, o concurso público é um sonho. Para mim, não era, mas acabei sendo “obrigado” a seguir esse caminho. Sou grato ao pré-sal, pois mudou minha vida. Brinco com minha mãe que é 30% do pré-sal e 70% da minha avó e dela, que sempre me apoiaram. Essa questão me incomodava muito no início da minha carreira; quando chegava a um clube, falavam mais da Petrobras do que da minha carreira.
Um evento triste na carreira de Thiago Galhardo foi sua única convocação para a Seleção Brasileira em 2020. Ele declara que não deseja mais voltar a vestir a camisa da Seleção devido a uma promessa feita à sua avó falecida, que incluía abstinência de sexo e bebidas.
“Para chegar à Seleção, é necessário abrir mão de muitas coisas. Não contei a ninguém, mas foram 130 dias sem relacionamentos e sem beber nada.”
— Thiago Galhardo.
– Eu me preparei. Durante minha passagem pelo Internacional, trabalhei muito para alcançar o futebol. As pessoas queriam me de volta à Seleção, mas ninguém perguntou se eu queria. Quando saí, decidi não voltar mais. Já realizei meu sonho e fiz o necessário para estar lá. Certas experiências na vida são únicas e devem ser vividas apenas uma vez.
Thiago Galhardo em entrevista ao Abre Aspas — Foto: Daniel Gomes
O futebol proporcionou a Galhardo mais do que fama e fortuna. Questões de saúde mental e desentendimentos possuem um papel significativo em sua trajetória. O jogador admite que não assiste ao futebol nas horas vagas e prefere compor músicas, assistir séries e ler — são mais de 120 livros nos últimos anos.
— A maioria dos atletas enfrenta dificuldades financeiras depois que a carreira termina. Só conseguem sobreviver pelos primeiros anos. Isso sempre foi um medo grande para mim. Minha base familiar me ensinou a valorizar a educação, o que pretendo passar aos meus filhos.
— Estou há três anos e meio em tratamento. Acreditamos que psiquiatras são necessários apenas em momentos extremos. Para ser honesto, tomo medicação diariamente para manter a tranquilidade. Em 2023, o futebol começou a perder sentido para mim; vi muitas coisas erradas, o que me levou a uma reflexão: “O que estou fazendo? Dinheiro não é tudo”.
Ficha Técnica
- Nome: Thiago Galhardo do Nascimento Rocha
- Profissão: jogador de futebol
- Idade: 35 anos
- Carreira: Bangu, Botafogo, Comercial-SP, América-RN, Remo, Boa Esporte, Cametá, Brasiliense, Madureira, Coritiba, RB Brasil, Ponte Preta, Albirex Nigata, Vasco, Ceará, Internacional, Celta de Vigo, Fortaleza, Goiás e Santa Cruz.
- Títulos: Campeonato Cearense (2023) e Copa do Nordeste (2024).
Galhardo se considera um dos últimos jogadores sinceros do futebol, ao lado de Neymar. Ele defende mais engajamento dos jogadores em questões sociais e um rompimento com os discursos moldados por assessorias de imprensa.
“Vemos muitos medrosos. Atualmente, alguns atletas se pronunciam, mas muitos temem como se posicionar”
— Thiago Galhardo.
— A maioria não se preocupa, afirmando que é indiferente quem está no poder. Afinal, isso impacta mais os empresários do que os jogadores, que frequentemente carecem de formação nessa área.
Defendendo o Santa Cruz na última divisão do Campeonato Brasileiro, Galhardo planeja o que fará após a aposentadoria: multiplicar seus ganhos, atuar como comentarista ou até participar do Big Brother Brasil.
— Considero ir para o Big Brother. Há muitos elementos novos e interessantes que podem me manter relevante. Um atleta de futebol nunca participou, então, seria interessante um convite.
Nesta entrevista, Thiago Galhardo detalha sua chegada ao Santa Cruz, sua convicção de que sua autobiografia será um “best-seller”, episódios marcantes de sua carreira e os conflitos que teve, como com o atacante Taison.
— Posso dizer que ele é falso, não me encara ao falar e é muito duvidoso, não sei se consegue olhar nos olhos durante uma entrevista.
Abre Aspas: Thiago Galhardo
ge: Como foi seu concurso na Petrobras?
Thiago Galhardo: – Era um processo para ensino médio; eu iniciava um curso preparatório para um emprego onde trabalharia em turnos de 14 horas. O curso de formação durou três meses e meio. No final de setembro, fui chamado para você ir a campo. Não era o que eu queria tanto, mas estava no caminho certo e aproveitei a estabilidade que vinha com isso. O futebol sempre foi minha verdadeira paixão, e dediquei-me muito a isso.
— Comecei como volante, mas depois fui testado como zagueiro e joguei em várias posições. Essa compreensão do jogo me permitiu ser um coringa nos clubes.
Como seria seu trabalho na Petrobras?
– Eu trabalharia na parte elétrica de plataformas. Meu turno seria das 7 às 7, o que me permitiria treinar. Nunca trabalhei diretamente na plataforma, mas outras pessoas me contaram que é um local difícil.
Thiago Galhardo em entrevista ao Abre Aspas — Foto: Daniel Gomes
Sua mãe era advogada e seu pai trabalhava no futebol. Você acredita que isso influenciou sua formação?
– Quando criança, não gostava de estudar e não conseguia perguntar por ajuda quando necessário. Mas sempre prestei atenção. Hoje, 99% dos textos que escrevo em minhas redes sociais são de minha autoria. Em 2014, voltei do Cametá e estabeleci metas, já li mais de 120 livros, sem contar finanças.
Quando se aposentar, você permanecerá no futebol?
– Sinceramente, preciso de um período sabático de dois ou três anos. Tenho muitos planos pessoais, como viagens e passar mais tempo com meus filhos. Percebo que o tempo é precioso e cada momento com meus pais é importante.
– Quero ter a licença PRO no futebol, mas não planejo trabalhar imediatamente. Dentro de alguns anos, gostaria de retribuir ao esporte que tanto me deu. Meu principal desejo é aproveitar meus filhos, pois perdi muitos momentos devido ao futebol.
O que o futebol te proporcionou?
– Sou grato ao futebol por poder ajudar pessoas. Isso não se limita a ajuda financeira; sempre compartilhei ensinamentos que mudaram minha vida através de livros. O maior ponto é que estou fundando um Instituto de Autismo para 120 crianças com recursos próprios. Isso é muito gratificante. Nunca havia me interessado pelo tema até um momento de reflexão.
E o que ele te tirou?
– Levou meu tempo. Sou grato pelo que o futebol me deu, mas sou triste por não ter estado presente em momentos importantes com meus filhos. O futebol tem muitos sacrifícios, mas procuro compensar isso nas férias.
O que te motivou a criar esse instituto?
– É uma necessidade que surgiu do coração. Soube que um primo tem um filho autista e isso me tocou profundamente. Quero oferecer os melhores profissionais para as crianças. Estou envolvido em todas as etapas e buscando recursos para realizá-lo. Mesmo que eu seja o presidente, quero estar presente no dia a dia, com a garantia que tudo funcione bem.
Thiago Galhardo, em entrevista ao Abre Aspas — Foto: Léo Albertim/Santa Cruz
Como você se sente no Santa Cruz?
– Estou bem, físicamente recuperado. Após meses sem treinar, estou feliz aqui. Os funcionários são amorosos e isso me motiva. O clube enfrenta dificuldades financeiras, mas há muito amor e alegria entre os que trabalham aqui.
– Meu principal objetivo é mudar as vidas das pessoas ao meu redor. Se conseguirmos subir o clube, isso também mudará a vida dos funcionários que há tanto tempo estão aqui. Caso seja meu último ato no futebol, quero deixar uma marca positiva.
Você ainda pode alcançar o alto nível que o levou à Seleção?
– Exemplos como Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi provam que esses jogadores não dependem muito dos companheiros para decidir uma partida. A maioria dos meus gols sempre contou com apoio dos meus colegas. Espero que, jogando no Santa Cruz, possa retomar o caminho de fazer gols.
Como você reagiu à repercussão da declaração de que sua contratação “mexeu com o Brasil”?
– Se não tivesse impactado, tantas pessoas não teriam falado. Recebi muitas ligações de amigos; nunca aconteceu isso ao ser contratado por outro clube. O engajamento nas redes sociais foi enorme, ultrapassando 60 milhões de acessos. Isso é difícil, poucas pessoas atingem tal alcance. Fiquei satisfeito.
– Meus comentários foram pensados. Fiquei receoso sobre a reação no vestiário, pois tudo ganha proporções maiores rapidamente. Detalhes pequenos, como a reação e o retorno dos torcedores empolgam.
Thiago Galhardo em entrevista ao Abre Aspas — Foto: Daniel Gomes
Você se chamou de “vulcão em erupção”. Poderia explicar?
– Vou ser honesto e falar coisas que nunca disse. Sempre brinquei sobre ser um vulcão adormecido, dependendo do ambiente. A única perda que tive foi a da minha avó em 2019, e a promessa dela era que eu jogasse na Seleção. Isso me levou a trabalhar muito para alcançar meu sonho.
– Atingi o que pretendia e não desejo voltar mais. Viver experiencias intensas é precioso.
Você ficou conhecido como “garoto problema”. Como reage a isso?
– Pode-se dizer que sou marrento. Brinco com os torcedores, mas em momentos particulares prefiro não ser reconhecido. Isso gera desconforto para mim e para eles.
– Sou polêmico porque luto por causas que considero justas. Não hesito em levantar questões sérias, como atrasos de salário. Não sou uma pessoa que guarda rancor em relação a outros.
– Em todas as experiências, sempre busquei ser verdadeiro. O oposto do que a mídia retrata é frequentemente ignorado.
Defina-se em uma palavra, tanto como jogador quanto como pessoa.
– Como pessoa, sou grato. Tive acesso ao que muitos esperam a vida inteira, e é isso que regulamenta que as homenagens devem ser feitas em vida. Sempre procurei retribuir tudo o que recebi.
– Fiquei triste com algumas experiências recentes no futebol e estou aberto a compartilhar, mas se não houver compromisso e sinceridade, prefiro me afastar.
Os jogadores não falam mais o que pensam?
– Vejo muitos medrosos. Atualmente, uma parte está se posicionando, mas a maioria não tem coragem de se expressar. Muitos preferem permanecer indiferentes.
– Não me arrependo de minhas ações, mas pode ser que a forma como eu afirmei certas coisas tenha sido imprópria devido à intensidade emocional do momento. A neutralidade pode descredibilizar a mensagem.
Qual a sua relação com a imprensa?
– Um dos profissionais que admiro é Eduardo, do Fui Clear. Ele se preocupa com o impacto de suas falas. A mídia busca o que vende: boas ou más notícias? A notícia ruim chama mais atenção.
– Embora os jogadores sejam formadores de opinião, precisamos ter cuidado com nossas palavras. Uma pequena declaração pode gerar reações imensas.
Qual é a sua opinião sobre a declaração de Raphinha antes do jogo Brasil-Argentina?
– Não creio que o Raphinha seja o jogador ideal para fazer tal declaração. É claro que há pressão em torno de sua situação, e isso pode ter influenciado seu comportamento.
Como foi jogar na Espanha?
– Foi uma experiência incrível. Lutei para competir contra jogadores como Messi e Cristiano Ronaldo. Vigo é uma cidade gentil; ao final dos jogos, os torcedores te tratam com muito carinho.
Os jogadores deveriam se organizar mais para se manifestar sobre decisões no futebol?
– Sem dúvida. Muitos atletas têm medo de se pronunciar. Grande parte se preocupa apenas consigo e não busca o bem coletivo.
Thiago Galhardo em entrevista ao Abre Aspas — Foto: Daniel Gomes
Thiago Galhardo é o último jogador sincero do futebol?
– Neymar também é bastante sincero nas suas declarações, porém a sinceridade de Romário é única. Acredito ser sincero e autêntico sem precisar ser a voz da razão.
Você se posiciona politicamente. Qual é a sua posição?
– Opinei sobre a política brasileira ao longo dos anos. Nos primeiros mandatos do Lula, percebo que houve avanços, mas sua gestão após isso decepcionou.
– Votei no Bolsonaro porque achei que ele seria um grande líder, e ele implementou várias mudanças construtivas. Em um cenário político, poucos jogadores se aventuram a falar.
Conversei sobre política com outros jogadores?
– É raro. A maioria não se importa. Poucos jogadores têm conhecimento sobre política, e muitos não têm uma base familiar sólida que os ajudem a compreender melhor.
– Lembro que ao ingressar no Botafogo, percebi que não era comum para os jogadores investirem em educação financeira e não faziam um uso responsável dos seus ganhos.
Galhardo teve conflitos na carreira?
– Não guardo ressentimentos e não sou uma pessoa que ri de problemas. Sempre me concentrei em seguir em frente. Acredito que isso seja uma forma saudável de lidar com problemas.
– Estou ciente de que algumas pessoas mencionam meu nome apenas por abalos na carreira e se aproveitam de mim para recuperar atenção.
– Fui um jogador polêmico por causa da autenticidade que demonstrei, mas não me incomoda.
Você pretende escrever um livro sobre sua vida. A quem ele se destina?
– Estou confiante de que minha história será um best-seller. Além de ser a história de um jogador de futebol que deixou um emprego na Petrobras, tem muitos conflitos e experiências que envolvem outras personalidades do futebol.
– Estou organizando notas no WhatsApp para traduzir essas experiências em um livro e espero publicá-lo em 2027, logo após minha aposentadoria. Planejo lançar dois anos depois.
Como foi sua briga com Valentim? Foi por causa de uma curtida no Instagram?
– A situação ficou tensa, quase trocamos socos. Fui tratado como um criminoso e não aceitei, por isso reagiu de forma intensa.
O que ocorria entre você e Gabigol após o título do Flamengo?
– As provocações são comuns no futebol, pois fazem parte da cultura esportiva. Brinquei sobre o cheirinho após um clássico e tenho um apreço pelo Flamengo, mas respeito a cultura de rivalidade.
E sobre a relação com o Taison?
– O Taison nunca me passava a bola durante os jogos e treinos. Sinto que seu comportamento era resultado de insegurança, pois estava em um momento de destaque na carreira.
– Sou uma pessoa que não guarda resquícios, mas mantenho respeito, mesmo que tenha um conflito.
Como você está lidando com a terapia atualmente?
– Estou em tratamento há mais de três anos, incluindo com psiquiatra. Hoje faço psicanálise, o que tem sido positivo para a minha vida. Se tivesse iniciado antes, poderia ter lidado melhor com algumas situações.
“Tomo medicação todos os dias para ajudar a controlar minha ansiedade e isso tem funcionado.”
— Thiago Galhardo
Thiago Galhardo em treino pela seleção brasileira sob comando de Tite — Foto: Lucas Figueiredo / CBF
Quais são suas dores pessoais relacionadas ao passado?
– Há muitas, algumas me trazem vergonha, mas revelarei no meu livro. Cresci sem a liberdade de chorar, então, agora estou aprendendo a lidar com as emoções e experiências diárias.
– Estou aprendendo a lidar com as minhas dores, especialmente por meio do diálogo e da terapia. É um processo constante de autodescoberta.
Como você se sentiu durante o ataque ao ônibus do Fortaleza?
– Esse tipo de violência é inaceitável e deveria ser combatido. A vida deve ser respeitada, e o cenário atual é altamente preocupante.
– Isso afetou minhas percepções sobre segurança. Meu tempo no futebol tem sido gerido com cautela e leveza, mesmo com o peso da responsabilidade.
Quais aspectos positivos você vê em sua vida?
– Sou feliz e muitas pessoas transmitiram isso a mim. Sempre busco levar alegria e descontração ao convívio social e no esporte.
Thiago Galhardo saboreia nova fase pessoal: de estar feliz consigo mesmo — Foto: Daniel Gomes/ge
Você prefere estar em evidência ou viver na sombra?
– No campo, busco sempre ser protagonista. Fora dele, gostaria de ter uma vida mais tranquila e anônima após a aposentadoria. No entanto, o meu legado no futebol será difícil de esquecer.
– Pretendo explorar novos campos, como a mídia ou o Big Brother Brasil, algo inovador para um atleta como eu.
Compartilhe algumas curiosidades sobre você.
– Sou apaixonado por Fernando de Noronha e já viajei por 26 países, mas este lugar é único. Gosto de poker e tenho três músicas compostas, trabalhando em parceria com outro jogador, espero que elas tenham sucesso.
– Não sou fã de futebol e prefiro passar minhas folgas em casa, assistindo séries e desfrutando de momentos tranquilos. Também gosto muito de sushi e adoro ter novas experiências.
Fonte: ge