Neste sábado (17), a RECORD exibirá, ao vivo para todo o Brasil, a partida entre Vasco e Fortaleza. As duas icônicas equipes se encontrarão no estádio São Januário, um dos mais antigos do país e um dos principais símbolos da luta contra o racismo e da acessibilidade no futebol, sendo motivo de orgulho para todos os torcedores cruzmaltinos.
Fazendo uma viagem no tempo, voltamos à década de 1920, quando o clube carioca começava a se destacar no cenário do futebol, em grande parte devido à presença de jogadores negros e de baixa renda, além do apoio da comunidade portuguesa.
O bicho, o Vasco e a vaquinha
Naquela época, o Vasco, assim como todos os outros clubes brasileiros até 1933, era um clube amador (tema já abordado por este blog). Para motivar os jogadores, a torcida realizava uma arrecadação de dinheiro com o intuito de “incentivar” os atletas.
Esse costume persiste até hoje, mesmo após quase um século de profissionalização do futebol no Brasil, e é denominado “bicho”, uma referência à contravenção carioca.
O historiador Luiz Antonio Simas, em seu livro *Maldito invento dum baronete: Uma breve história do jogo do bicho* (2024, Mórula Editorial), explica como essa prática surgiu: “A origem provável do termo vem do hábito dos torcedores do Vasco da Gama, na década de 1920, de recompensar os jogadores em caso de vitória. Um empate em condições favoráveis valia um cachorro, grupo 5, ou 5 mil-réis. Uma vitória rendia 10 mil-réis, um coelho. Para vitórias memoráveis ou conquistas de campeonatos, o prêmio máximo: vaca, número 25, ou 25 mil-réis”.
Percebeu que o maior prêmio era chamado de “vaca”? Por conta dos altos valores, os torcedores precisavam de ajuda adicional, ou seja, mais pessoas participando da “vaquinha”.
Estádio construído com vaquinha?
Para concluir essa narrativa, temos outra vaquinha carioca que é um grande orgulho para os torcedores da Cruz de Malta: a construção do Estádio Vasco da Gama, conhecido como São Januário (nome da rua de acesso).
Assim como em São Paulo, o elitismo e o racismo tentaram dificultar o desenvolvimento do futebol. Clubes predominantemente formados pela elite carioca tentaram boicotar o Vasco no início dos anos 20, pois o time era composto por imigrantes e pessoas negras, oriundas de classes menos favorecidas (vale lembrar que a escravidão foi abolida no Brasil em 1888). Menos de 50 anos depois, o Cruzmaltino desafiava a elite com uma equipe popular e multirracial.
O time sagrou-se campeão em 1923, o que gerou revolta em América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense, que formaram uma nova liga para excluir o Vasco, implementando regras que impediam “trabalhadores braçais e empregados subalternos” de jogar na competição, uma mensagem clara que resultou na “Resposta Histórica” do clube e no seu boicote ao torneio.
Em 1925, o quinteto convidou o Vasco a se juntar à nova liga, mas o clube buscava mais que isso; além de se recusar a participar do torneio de 1924, tinha a ambição de construir o maior estádio do Brasil. Com o apoio de sua apaixonada e humilde torcida, o sonho se tornou realidade.
Todos ajudaram
A construção do estádio contou com doações financeiras, materiais de construção, além de trabalho voluntário de vascaínos dedicados, que colocaram “a mão na massa” para concretizar o sonho do estádio. Ou seja, foi uma verdadeira vaquinha, representando o poder do povo, capaz de superar qualquer opressão de uma sociedade elitista no início do século XX.
O estádio foi inaugurado em 1927, durante um emocionante jogo contra o Santos dos 100 gols, que também desafiava “o sistema” na época, com a reconhecida escola santista de futebol… Mas essa já é outra história que já abordamos por aqui…
Equipe do Vasco, em 1927, no dia da inauguração Reprodução/Centro de Memória CRVG
Pedra fundamental do estádio em 6 de junho de 1926 Reprodução/Centro de Memória CRVG
Estádio lotado na inauguração
Fonte: Prisma – R7