Para esclarecer os acontecimentos, é necessário traçar a linha do tempo do que se sucedeu logo após a derrota por 4 a 0 para o Criciúma em pleno São Januário, no último sábado (27), pelo Campeonato Brasileiro.
Segundo informações inicialmente divulgadas pelo UOL e GE e confirmadas pela ESPN, logo após o fim do jogo, Ramón Díaz e seu filho/auxiliar, Emiliano, procuraram o gerente de futebol do Vasco, Clauber Rocha, e comunicaram que não desejavam mais seguir à frente da equipe.
Imediatamente, a diretoria do clube interpretou essa manifestação como um pedido de demissão, evitando assim a necessidade de pagar a multa rescisória. Dessa forma, o pedido dos Díaz foi prontamente aceito.
Porém, a ESPN apurou que Ramón e Emiliano ficaram surpresos com a rápida aceitação do Cruzmaltino, acreditando que o clube ofereceria resistência e tentaria dissuadi-los da decisão. Inclusive, no vestiário de São Januário, alguns dos jogadores mais experientes da equipe, como Vegetti e Medel, solicitaram ao pai e filho que repensassem a saída. No entanto, o Vasco já tinha anunciado nas redes sociais que os Díaz não estavam mais na liderança…
Após terem conhecimento da publicação vascaína nas redes sociais, Ramón e Emiliano procuraram o departamento de comunicação do clube, manifestando o desejo de se despedir da torcida por meio de um pronunciamento.
Nesse ínterim, um dos profissionais do setor entrou em contato com o CEO da SAF, Lúcio Barbosa, para definir se a comunicação entre a família Diaz e a imprensa seria autorizada.
Inicialmente, a equipe comunicou aos veículos de imprensa que cobrem o clube, por meio do grupo no WhatsApp, que não haveria coletiva. Contudo, minutos depois, informou que a família Diaz faria uma declaração – sem especificar o conteúdo.
Foi então que Ramón e Emiliano utilizaram a oportunidade para mencionar que foram “despedidos pelo Twitter”.
“Não concordei com a forma como tudo acabou, achei que merecíamos mais respeito e não ser comunicados via Twitter, pois contribuímos significativamente para o Vasco. O futebol é assim”, reclamou Emiliano.
Agora, a ESPN apurou que o departamento jurídico do Vasco buscará testemunhos de indivíduos que estavam no camarim para evitar a classificação da situação como demissão da dupla, o que acarretaria no pagamento da multa rescisória expressiva, uma vez que o contrato de ambos iria até o final de 2025.
Desgaste já vinha ocorrendo
Para além do embate judicial que se aproxima, é relevante destacar os acontecimentos que desgastaram a relação entre a família Díaz e o Vasco, desde dezembro do ano anterior.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o Vasco já planejava a saída de Ramón Díaz, independentemente de ele ter solicitado demissão ou não.
A saída de Paulo Bracks, com quem a família Díaz mantinha bom relacionamento na diretoria, foi o primeiro ponto de conflito. Tanto que a renovação do contrato, já acordada verbalmente, demorou algumas semanas para ser efetivada por meio da assinatura do novo compromisso.
Durante a pré-temporada, o então diretor-executivo Alexandre Mattos compartilhou com a dupla as dificuldades que enfrentava para contratar os jogadores solicitados, devido à burocracia operacional da 777. Em uma das reuniões de rotina, o dirigente chegou a dizer a Ramón que ele não teria o elenco competitivo que desejava para 2024.
Após o confronto contra o Red Bull Bragantino, pela 2ª rodada do Brasileirão, as declarações machistas de Ramón Díaz em relação a Dayane Muniz, árbitra de vídeo do jogo de estreia contra o Grêmio, geraram enorme desconforto institucional, prontamente repudiado pela SAF, que emitiu uma nota de repúdio uma hora após a fala do treinador.
Por fim, antes da derrota para o Criciúma, que acabou sendo o estopim na conflituosa relação, a exposição pública de Ramón em relação a um pedido da 777 para maior utilização dos jogadores da base tornou a relação entre os agentes da empresa e a comissão técnica praticamente insustentável.
Era apenas uma questão de aguardar uma oportunidade, que surgiu na tarde de sábado, em São Januário.
Agora, caberá à Justiça decidir se Ramón e seu filho têm ou não direito à multa rescisória, cujo valor total é mantido em sigilo. No entanto, estima-se que o montante ultrapasse R$ 15 milhões.
Fonte: ESPN