O Vasco da Gama formalizou um empréstimo com a Crefisa na última quarta-feira. Segundo os termos do financiamento, o clube precisa da aprovação da instituição financeira para quaisquer vendas ou negociações envolvendo a Sociedade Administradora de Futebol (SAF). Além disso, como o clube e a SAF estão em recuperação judicial (RJ), a administração vascaína deve obter autorização da Justiça.
Essa exigência é considerada rotineira pelo clube, uma vez que o credor necessita estar ciente de quem receberá os pagamentos em caso de venda do controle societário. O Vasco acredita que qualquer instituição de crédito deve ser notificada, uma vez que uma venda pode influenciar as condições de pagamento.
Devido à recuperação judicial, o Vasco requer ainda a autorização da juíza responsável pelo processo para alterar o controle societário. A Justiça e a Administração Judicial (AJ) também precisam validar não apenas o empréstimo, mas qualquer movimentação financeira, incluindo antecipações de crédito ou receitas.
Em um parecer encaminhado à Justiça recentemente, a AJ reconheceu a urgência do empréstimo para assegurar a continuidade das atividades do clube, porém ressaltou a necessidade de um plano detalhado para a aplicação dos recursos, conforme exigido no contrato de crédito. Entre os aspectos elencados, a Administração Judicial frisou que, por envolver 20% da SAF como garantia, a operação necessita da aprovação do Conselho Deliberativo do Vasco, seguindo o estatuto do clube.
Além disso, o parecer detalhou alguns “convenants”, compromissos que visam proteger os interesses dos credores em contratos de financiamento. Dentre esses, o Vasco se compromete a não alterar o grupo controlador da SAF e a estrutura societária sem a aprovação prévia da Crefisa até 8 de junho de 2026. Os pontos destacados incluem:
“Convenants: (i) manter atividade operacional regular e objeto social inalterado; (ii) sem prévia anuência do credor, não poderá modificar a estrutura societária ou grupo de controle da SAF até 08.06.2026, nem distribuir lucros ou dividendos; (iii) apresentar mensalmente informações e documentos contábeis não auditados referentes aos 2 meses anteriores; (iv) direito de preferência do credor para a concessão de novos financiamentos ou dívidas, nas mesmas condições propostas por terceiros, durante a vigência do presente instrumento.”
Para conseguir o empréstimo, o clube organizou um processo de seleção para escolher a instituição financeira que fornecerá aproximadamente R$ 80 milhões, destinados a cobrir despesas operacionais, como salários, fornecedores essenciais e obrigações fiscais.
Outras instituições financeiras apresentaram propostas, mas as condições da Crefisa foram consideradas as mais vantajosas pela diretoria do Vasco. A autorização da Justiça foi solicitada em uma petição enviada à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro há duas semanas.
Pedrinho, presidente do Vasco, e Leila Pereira, presidente do Palmeiras — Foto: Anderson Romão/AGIF
Crefisa pode adquirir 20% do Vasco?
O empréstimo inclui como garantia 20 mil ações ordinárias de classe A, correspondentes a 20% do capital social da Vasco SAF, que atualmente pertence ao CRVG. Essas ações são parte do ativo não circulante e só podem ser utilizadas com autorização judicial.
Conforme o vice-presidente jurídico do Vasco, Felipe Carregal, os 20% do capital da SAF foram escolhidos como garantia para evitar comprometer receitas futuras do clube, como cotas de televisão, patrocínios ou vendas de jogadores. Ele enfatizou que o valor das garantias oferecidas sempre supera o montante financiado quando se trata de entidades em recuperação judicial.
— É importante ressaltar que garantia não equivale a “valuation” ou alienação. Já temos uma experiência onde sedes como São Januário foram oferecidas como garantia em diversas transações no passado — esclareceu.
Assim, os 20% da SAF do Vasco só seriam transferidos para a Crefisa caso o clube não cumpra as condições do empréstimo, o que incluirá um período de carência de 12 meses, seguido de pagamentos trimestrais em um total de 36 meses.
Processo de concorrência
Em entrevista, Pedrinho abordou o processo e revelou que mais de 60 instituições financeiras foram contatadas. Ele destacou que a Crefisa se destacou ao oferecer as melhores condições. O presidente do Vasco mencionou sua parceria com José Roberto Lamacchia, marido de Leila Pereira e proprietário da Crefisa.
— Desde o início do planejamento de recuperação judicial, já prevíamos a necessidade de um empréstimo para equilibrar o fluxo de caixa e garantir que o clube pudesse cumprir suas obrigações imediatas. No entanto, conseguimos postergar essa captação ao máximo, permitindo que buscássemos a melhor opção no mercado — afirmou Pedrinho.
Ele também revelou que a Crefisa está disposta a investir em projetos incentivados da associação, fruto do seu bom relacionamento com Lamacchia.
— Seguimos firmes, com responsabilidade e transparência, como sempre prometemos à torcida vascaína — finalizou Pedrinho.
Fonte: ge