Você sabia que o Vasco é um clube agraciado com uma honraria da realeza de Portugal e poderia, se quisesse, adicionar o termo “real” antes de seu nome e incluir a coroa portuguesa em seu escudo?
Essa é uma história que teve início em 1907, mas que ficou perdida após um regicídio, o assassinato de um rei, que chocou Portugal no início do século passado, e que foi redescoberta recentemente. O Vasco é o único clube fora de Portugal que detém esse Alvará Régio.
Os detalhes estão detalhados no livro “125 anos de Glórias: Real Club de Regatas Vasco da Gama”, lançado na quinta-feira em um evento no Palácio de São Clemente, no Rio de Janeiro, onde funciona a sede da Embaixada de Portugal no Brasil. O ge conversou com Manuel Beninger, presidente da Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos (APAM) e autor da obra (confira um resumo no vídeo acima).
– O livro não é um romance, é um registro histórico. Conta a história desses pequenos detalhes que conferem o título ao Vasco. É como se o Vasco fosse o Real Madrid dos trópicos – brincou ele.
Em dezembro de 2016, durante uma visita a São Januário, a APAM concedeu ao clube a Medalha de Honra pela promoção das origens portuguesas. O então presidente Eurico Miranda recebeu a insígnia.
Nessa ocasião, o historiador Henrique Hübner, que era diretor do Centro de Memória do Vasco, falou sobre o título de nobreza que o clube deveria ter recebido em 1908 (o fato foi noticiado por jornais da época), mas que acabou sendo esquecido ao longo do tempo.
– Ele mencionou que tinha essa história, que tinha acontecido vagamente, mas que não havia confirmação – explicou Beninger.
– Então quando fui alertado sobre isso, perguntei se o Vasco tinha interesse em receber esse título real. Mostraram grande interesse. Fui a Portugal, fiz as pesquisas, entrei em contato com historiadores, com a Chancelaria da Casa Real Portuguesa e constatou-se que, de fato, existia e havia provas concretas desse documento a ser entregue ao Vasco da Gama. Existia o título, mas não foi concedido – completou.
“O Real Madrid dos trópicos”
A história é a seguinte: em 1907, em reconhecimento às conquistas do Vasco em prol das raízes portuguesas, o Rei Dom Carlos I promulgou o chamado Alvará Régio. O documento real seria entregue ao clube no ano seguinte, 1908, durante a visita do Rei de Portugal ao Brasil para comemorar os 100 anos da abertura dos portos do Rio de Janeiro às nações amigas.
– No entanto, em 1 de fevereiro de 1908, o rei foi assassinado. Houve um regicídio, mataram o rei e o herdeiro real. O rei não veio, o título não foi entregue e ficou esquecido na história. Completamente esquecido – contou o autor do livro.
Naquela época, era comum conceder títulos de realeza a clubes de futebol e instituições. No Brasil, resistem até os dias de hoje o Real Gabinete Português de Leitura e o Real Sociedade Clube de Ginástica Português – ambos, assim como o Vasco, receberam o Alvará Régio da Casa Real de Portugal.
É o mesmo que ocorreu com o Real Madrid, que por sua vez recebeu a honraria do Rei espanhol Alfonso XIII. Na Espanha, a Real Sociedad, o Betis, o Valladolid, o Celta de Vigo, o Mallorca e o Espanyol são outros exemplos de clubes que têm “Real” no nome e a coroa sobre o escudo.
– O Vasco é o Real Madrid dos trópicos. Essa era a proposta – disse Manuel Beninger.
Em nome da APAM e informado sobre o interesse do Vasco, Beninger fez a ponte com a Casa Real Portuguesa para renovar os votos do Alvará Régio. O novo documento (foto acima) foi assinado por Dom Duarte de Bragança, atualmente o chefe da monarquia portuguesa, e entregue ao clube em agosto de 2017.
A cerimônia culminou uma história que se iniciou há mais de um século.
O livro escrito por Beninger será vendido por um valor simbólico, e toda arrecadação será destinada a uma instituição de solidariedade na Guiné Bissau: “Vamos ajudar outro país de língua portuguesa, que é um país muito conhecido. Eles têm o interesse em formar uma equipe de futebol Vasco da Gama. Vamos comprar uniformes, equipar os jovens e impulsionar o Brasil além-fronteiras. Queremos promover o Vasco fora do continente”, concluiu.
Fonte: ge