Destaque da Portuguesa, camisa 10 do Grêmio e do Vasco, com participações na Seleção, Dener era alvo do Stuttgart, clube onde Dunga atuava na época. Na época, a imprensa noticiou que um acordo estava fechado em um jantar na véspera da chegada de Dener ao Rio de Janeiro. Foi durante essa viagem que, faltando 15 minutos para chegar em casa, o motorista dormiu ao volante e causou o acidente fatal que vitimou Dener.
De fato, um diretor importante do Stuttgart esteve no Brasil e se encontrou com Dener em São Paulo, alimentando as notícias da época. No entanto, não havia contrato assinado.
– Na verdade, existia uma negociação inicial, nenhum contrato estava firmado, era apenas um acordo selado de forma informal – afirmou Marcel Figer, filho do renomado empresário Juan Figer.
Marcel, de 57 anos, trabalhou ao lado de seu pai até o falecimento de Juan Figer em 2021. Cinco anos mais velho que Dener, Marcel tinha um vínculo próximo com o jogador que impressionou Maradona em 1994, durante a pré-temporada do Vasco. Segundo ele: “Me encontrei com Maradona em Buenos Aires logo após a partida contra o Newell’s, e ele me disse que ficou impressionado com Dener”.
– Posso afirmar uma coisa: o Vasco era o clube mais interessado em contar com Dener. Eurico Miranda nos dizia diariamente: “De alguma forma, vou contratá-lo”. Ele o queria a todo custo – recordou Marcel.
O valor da transferência de Dener era de US$ 3 milhões, um montante considerável para os clubes brasileiros e até mesmo para o futebol internacional. O Vasco desembolsou cerca de 350 mil dólares pelo empréstimo, enquanto o Grêmio, um ano antes, garantiu o empréstimo de Dener gratuitamente.
Eurico entendia a grande procura por Dener após seu segundo empréstimo – no primeiro semestre de 1993, o jogador foi campeão estadual e finalista da Copa do Brasil pelo Grêmio, repetindo o sucesso no Vasco, que conquistou o tricampeonato carioca com Jardel ocupando a vaga de Dener.
– A possibilidade do Stuttgart era real, não se tratava apenas de especulação. Eles estavam prestes a fazer uma proposta, mas precisavam aguardar o término do empréstimo de Dener ao Vasco. Nessa época, em abril, as negociações não eram decididas com tanta antecedência como são atualmente. A situação certamente seria complexa, pois no Vasco tínhamos Eurico, um negociador habilidoso. Não sabemos como isso teria terminado – relatou o empresário.
– Tenho a impressão de que Eurico faria de tudo para ter o jogador.
“Dener não tinha receio de desafios”
Apesar de almejar a seleção brasileira, a participação de Dener na Copa de 1994 era um sonho distante. Convocado durante o processo de renovação sob o comando de Paulo Roberto Falcão em 1991, o jogador disputou duas partidas pela Seleção principal e nove no Pré-Olímpico – com Ernesto Paulo -, quando o Brasil não conseguiu se classificar. Durante a competição no Paraguai, Marcel lembra de um episódio em que Faustino Asprilla também se encantou com Dener e solicitou a camisa do talentoso brasileiro.
Em uma época de limitada transmissão de jogos internacionalmente, destacando-se apenas as partidas do campeonato italiano na TV aberta, a visibilidade proporcionada pelo Vasco, que na época possuía um poderio financeiro superior aos rivais cariocas, era usada como argumento pela diretoria do clube de São Januário.
– Dizíamos a ele: você, deixando o Maracanã do jeito que deixa, terá grandes chances de ser convocado para a seleção brasileira. A Copa era uma realidade mais próxima nos EUA (sede do torneio) do que na Alemanha, conforme Eurico costumava enfatizar para Dener.
O trágico desfecho de Dener, com seu veículo Mitsubishi branco de placa DNR-0010, ao lado de Otto Gomes Miranda, deixou um vazio nos corações dos brasileiros apaixonados pelo futebol único daquele que acreditava que “às vezes, um drible é mais bonito que um gol”.
Na ocasião, o Vasco enfrentou processos da Portuguesa e da família de Dener. O acordo, no valor de aproximadamente R$ 5 milhões, foi finalmente concretizado em 2007 com a viúva. Houve um período em que o pagamento estava atrasado durante a gestão de Roberto Dinamite, sendo efetivado somente na última passagem de Eurico Miranda na presidência, em 2015.
– Dener não tinha receio de desafios. Se precisasse jogar na Alemanha, jogaria. Se fosse na Rússia, jogaria. Em qualquer lugar do mundo, ele estava disponível para atuar. Ele buscava um contrato sólido para poder auxiliar sua família. Desde aquela época e até antes, os jogadores almejavam uma transferência para a Europa, onde a remuneração era superior. Jogar em grandes países europeus era um de seus desejos – afirmou Marcel Figer.
Fonte: ge
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