Apesar de terem inicialmente concordado em negociar com a Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro entre 2025 e 2029, Corinthians e Santos estão considerando a possibilidade de sair da Libra e se juntar ao grupo de Forte Futebol e Grupo União.
Os dirigentes de ambos os times foram abordados por executivos da empresa Livemode, que auxilia o Forte Futebol em assuntos relacionados à liga. Eles foram aconselhados a não assinar o contrato definitivo com a Globo sem antes ouvir a proposta do outro lado.
As reuniões ocorreram na semana passada, tanto individualmente quanto com a participação de Corinthians e Santos simultaneamente. Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol e parceiro comercial da Livemode, também está envolvido nas aproximações.
A diretoria de Augusto Melo, novo presidente do Corinthians, foi a primeira a iniciar as negociações. Com a proposta da Globo em mãos, os corintianos comunicaram aos representantes do Forte Futebol que precisariam de uma garantia de receita mínima para mudar de lado.
A proposta oferecida não prevê uma garantia convencional, mas sim um mecanismo denominado de “colchão”.
Na garantia mínima, o Corinthians teria direito a uma quantia específica da verba proveniente da televisão. Dessa forma, se o montante arrecadado por todos os times ficasse aquém do esperado, o clube teria sua parte garantida e tiraria dinheiro dos concorrentes. A disputa entre os blocos, que já dura mais de um ano, teve o Forte Futebol se opondo firmemente à garantia mínima nos termos propostos, especialmente em favor do Flamengo.
Já no conceito de colchão, a XP Investimentos se compromete a emprestar R$ 100 milhões ao Corinthians e R$ 65 milhões ao Santos — em um contrato de mútuo comum. A diferença é que ambos os clubes teriam valores mínimos predefinidos para as receitas obtidas com a transmissão.
Caso o Corinthians termine em 10º lugar no Brasileirão de 2025, por exemplo, a garantia seria de uma receita de R$ 200 milhões. Suponhamos que a audiência das partidas corintianas fique aquém do esperado — um fator que afeta a divisão do dinheiro no sistema do Forte Futebol — resultando em um valor destinado de R$ 180 milhões.
Nesse cenário, a diferença de R$ 20 milhões seria descontada da dívida contraída pelo Corinthians com a XP. Essa quantia seria perdoada, não entrando no caixa alvinegro diretamente como receita, mas deixando de ser paga na quitação da dívida. O efeito prático é o mesmo.
A diretoria liderada por Marcelo Teixeira, também recentemente eleito para presidir o Santos, realizou reuniões em seguida e também recebeu uma oferta nos mesmos termos. O clube receberia o empréstimo da XP e contaria com o “colchão” para amortizá-lo, caso sua receita proveniente da divisão da transmissão do Brasileirão ficasse abaixo do valor fixado no contrato.
No caso do Santos, há uma preocupação adicional: a temporada de 2024. A situação financeira do alvinegro é delicada, agravada pelo rebaixamento para a Série B e a ausência na Copa do Brasil. Os dirigentes perceberam a possibilidade de exigir um pagamento adicional ainda para este ano.
Times que sofrem rebaixamento para a segunda divisão geralmente têm que decidir entre receber um valor fixo do contrato da Série B, aproximadamente R$ 10 milhões, ou depender da quantidade de assinantes do pay-per-view da Globo, uma variável incerta. Desejado por Libra e Forte Futebol, na disputa entre blocos, o Santos busca uma exceção para receber um valor adicional em 2024.
Atualmente, apesar da pressão de ambos os lados, corintianos e santistas ainda não tomaram uma decisão sobre qual caminho seguir — manter-se na Libra e firmar com a Globo ou migrar para o Forte e aderir a esse contrato com investidores.
E a Libra?
Se decidirem mudar de lado, Corinthians e Santos não se juntariam formalmente ao Forte Futebol, mas adeririam ao grupo entre Forte e União para comercializar seus direitos de mídia com os clubes desses blocos. Como resultado, a Libra seria prejudicada, inclusive financeiramente, vendo a proposta atual em suas mãos, da Globo, ser reduzida.
No esboço contratual enviado pela emissora aos clubes, está prevista uma redução de 11% no valor caso haja menos de nove clubes na primeira divisão, considerando apenas os membros da Libra, e outros 10% na ausência de Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo.
Sem a dupla paulista, a Libra não atenderia a ambos os requisitos. O valor descontado da oferta de R$ 1,3 bilhão por ano seria de R$ 273 milhões, aproximando-se assim de R$ 1 bilhão anual.
Atualmente, Corinthians e Santos têm potencial para causar um prejuízo considerável à Libra na venda dos direitos de transmissão e na disputa com os blocos rivais. Os motivos que levaram a dupla a considerar a proposta do outro lado são financeiros, mas não somente isso.
Tanto Augusto Melo quanto Marcelo Teixeira acabaram de assumir as presidências dos clubes em crises financeiras e ambos têm grandes dúvidas em relação às decisões e atitudes de seus antecessores — Duilio Monteiro Alves e Andres Rueda, respectivamente.
Além disso, as pessoas designadas pelos presidentes para lidar com o assunto se sentiram desrespeitadas pelo tratamento recebido na Libra. Na assembleia realizada há duas semanas, onde foi decidido continuar as negociações com a Globo, Rozallah Santoro, diretor financeiro do Corinthians, e Norberto Gonçalves, diretor financeiro do Santos, foram tratados de forma rude por seus colegas.
Corintianos e santistas sabem que, por estarem entrando em uma negociação que vem sendo conduzida há meses, podem causar desconforto aos outros membros com suas exigências por mudanças. No entanto, ambas as diretorias não desejam fechar o negócio às cegas.
Foi a combinação de motivações financeiras e pessoais que levou os representantes de Augusto Melo e Marcelo Teixeira às reuniões com os intermediários do Forte Futebol.
Em detalhes
Os empréstimos propostos a Corinthians e Santos pela XP são respectivamente de R$ 100 milhões e R$ 65 milhões. O prazo para pagamento é de cinco anos, com parcelas anuais a serem pagas no final de cada ano. A taxa de juros é de CDI mais 5% — a taxa básica utilizada por instituições financeiras para transações, acrescida de 5% ao ano.
Dado que os dois clubes enfrentam condições financeiras delicadas, com muitas dívidas e receitas já comprometidas em garantias de outros créditos, acredita-se que as condições desse novo empréstimo sejam difíceis de serem encontradas no mercado financeiro com outras instituições. E ainda há o “colchão” para garantir uma receita a partir de 2025.
Fonte: ge