Nascido em Lídice, um pequeno distrito de Rio Claro, que fica a cerca de 100 quilômetros do Rio de Janeiro, Hugo foi descoberto em uma peneira do CFZ e, posteriormente, seguiu para o Flamengo. Entretanto, decidiu interromper sua trajetória rumo ao sonho de ser jogador, pois não aguentava mais as 5 horas diárias na estrada para ir aos treinos e voltar para casa. Na época, ele tinha entre 14 e 15 anos.
Seu avô Edno, um taxista, levava o neto aos treinos. O atual volante confessa que decidiu abrir mão de tudo quando percebeu o tamanho do sacrifício que sua família, de origem humilde, fazia por ele.
– Eu via as dificuldades que enfrentávamos, mas meu avô e meu pai não deixavam transparecer, pois desejavam que eu chegasse ao profissional. A decisão de parar foi difícil, mas eu estava vendo o sofrimento deles. Eles não me mostravam isso, mas eu percebia – relatou em uma entrevista ao ge.
“Meus amigos eram todos de Lídice, minha família, eu teria que deixá-los para trás. Isso me incomodava”.
Hugo Moura, hoje volante do Vasco, ao lado do avô Edno na infância — Foto: Arquivo Pessoal
Hugo ficou fora do futebol por um ano, o que deixou seu avô bastante chateado. “Ele ficava ligando para os pais dos meus amigos da base tentando me convencer a voltar, pedia para falarem comigo”. O Flamengo pediu seu retorno, mas a comunicação era complicada, pois a casa onde morava não tinha telefone. A ligação era sempre para um vizinho ou parente.
Foi um momento desgastante, mas Hugo compreendeu que o sacrifício dele e de sua família seria recompensado.
– Meu avô foi crucial na minha trajetória. Me emociono ao falar dele – comenta o volante, que tem a imagem de Seu Edno tatuada no braço direito.
– Sabemos que não é fácil morar longe, deixar amigos e família para trás. Eles estão muito orgulhosos e fico contente em poder proporcionar tudo isso. Os clubes pelos quais passei e os títulos que conquistei, dedico a eles, que fizeram tudo isso por mim.
Após completar sua formação no Flamengo, Hugo integrou o elenco de 2019, um ano marcante para o clube. Foi emprestado ao Coritiba e, depois, vendido ao Athletico, onde participou da final da Libertadores de 2022. Agora, está vivendo a melhor fase da carreira com a camisa do Vasco.
Hugo Moura comemora gol do Vasco sobre o Athletico-PR — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
– Acredito que estou vivendo um dos melhores momentos da minha carreira, estou muito feliz em vestir essa camisa. Joguei contra o Vasco muitas vezes, e já sei o que a torcida e o clube esperam. É preciso ter garra, nunca desistir. Sei que jogar em São Januário é desafiador para os adversários – disse.
“Compreendi rapidamente o que significa jogar no Vasco da Gama”, finalizou.
A retomada de Hugo Moura
Hugo chegou ao Vasco a pedido do então técnico Ramón Díaz, que pedia a contratação urgente de um volante. Curiosamente, ele jogou apenas duas partidas sob o comando do argentino.
O jogador foi inicialmente emprestado pelo Athletico, mas a cláusula de compra foi acionada automaticamente com uma condição simples: ser convocado para cinco partidas. Com isso, o Vasco terá que pagar R$ 10 milhões a partir de janeiro pela contratação definitiva.
Sua estreia, com uma assistência para o gol de Vegetti no clássico diante do Fluminense, animou a torcida, apesar da derrota por 2 a 1. Mas, em três jogos depois, Hugo enfrentou o que considera seu pior momento como jogador: a expulsão na derrota para o Athletico, seu ex-clube, em Curitiba. Com um jogador a menos, o Vasco perdeu o jogo por 1 a 0.
“Foi complicado, sofri bastante. Não apenas eu, mas toda a minha família passou por momentos difíceis por causa daquilo”.
– Saí de campo escutando 30, 35 mil pessoas gritando meu nome, enquanto eu deixava o campo expulso. O futebol é dinâmico, as coisas mudam rapidamente, e temos que estar prontos. Se eu chegar contra o Athletico e pensar que tudo vai se repetir, não vai dar certo.
Ele se refere aos três confrontos recentes contra o Athletico: um pelo returno do Brasileirão e dois pelas quartas de final da Copa do Brasil. Hugo dominou o meio de campo nas três partidas, especialmente na ida do mata-mata em São Januário, quando fez o gol da vitória por 2 a 1. Para ele, essa foi sua melhor atuação com a camisa cruz-maltina.
– Alguns dizem “ah, ele veio do Flamengo, veio do Athletico, preto e vermelho, rubro-negro…”. Às vezes, ficam em dúvida sobre o que podemos mostrar em campo – comentou Hugo.
– Várias coisas contribuíram para a minha recuperação contra o Athletico, e eu sei que aquele lance não define quem sou. Aconteceu e foi uma lição na minha vida. Mas jogar contra rivais não é fácil (risos). Há muitas dúvidas, as pessoas acham “ah, você cometeu o erro porque jogou lá”, mas não é assim. Vou honrar sempre a camisa do clube que representar, pois é o que pode mudar minha vida, da minha família e do meu filho. Vou me entregar de corpo e alma por esta camisa que visto hoje, que é a do Vasco – finalizou.
“Vão sofrer no nosso caldeirão”
Hugo comentou que Rafael Paiva o incentiva a se aventurar na área adversária.
– Ele me dá liberdade para atacar, chegar na frente e buscar o gol. Ele sempre diz que uma oportunidade vai aparecer – revelou o volante.
– Vejam o lance do gol do Vegetti contra o Athletico, o Piton fez um cruzamento e eu fui em direção ao Thiago Heleno, que não sabia como me marcar. A bola chegou e o Vegetti fez o gol. Isso dificulta muito a vida da linha defensiva adversária – acrescentou.
A classificação para as semifinais da Copa do Brasil evidenciou a resiliência e o espírito guerreiro do time do Vasco, que buscou a virada no primeiro jogo contra o Athletico e conseguiu o empate que levou a decisão aos pênaltis em Curitiba, mesmo estando em desvantagem de 2 a 0 (e com um jogador a menos).
É com essa determinação que o Vasco se prepara para enfrentar o Atlético-MG na semifinal. O primeiro jogo, na Arena MRV, acontece na próxima quarta-feira.
– Estamos com uma energia positiva demais nessa Copa do Brasil, considerando tudo o que estamos construindo. Sabemos que será um jogo complicado, enfrentaremos um time de ponta do futebol brasileiro, mas a camisa do Vasco pesa muito, estamos cientes disso. Vamos dar o melhor de nós para alcançar esse objetivo, pois o clube merece, a torcida merece, e todos nós do grupo também merecemos ser campeões. E queremos levantar um pouco a moral do clube, dos torcedores, que passaram por tantas dificuldades e desafios nos últimos anos. Faremos de tudo para alegrá-los – destacou, antes de alertar:
– Não será um jogo fácil. Precisamos jogar de igual para igual lá porque, quando vierem aqui para o nosso caldeirão, sabemos que vão sofrer também.
Fonte: ge