
Dulce Rosalina fez história ao se tornar a primeira mulher a presidir uma torcida organizada no Brasil, cargo que assumiu em 1956 na Torcida Organizada do Vasco (TOV), o maior movimento do clube na época. O legado de Dulce persiste nas arquibancadas e agora ganha um livro escrito pela jornalista Daniela Araújo. Em entrevista ao R10Score News, Daniela compartilhou os detalhes do projeto.
A apresentação do livro ocorrerá no dia 25 de abril, no Espaço Multifoco, localizado na Avenida Mem de Sá, 126 – Lapa, Rio de Janeiro, a partir das 18h (horário de Brasília). Daniela estará presente para discutir o livro e falar sobre Dulce.
R: “Parece uma daquelas histórias mágicas do futebol. Eu havia recém-me formado e estava em busca de um projeto de pesquisa para o mestrado e me sentia um pouco perdida.
Em um jogo em São Januário, recebi um panfleto sobre Dulce durante uma ação do Dia das Mulheres. Também vi a bandeira dela nas arquibancadas. Foi nesse instante que percebi que tinha encontrado um tema relevante para meu estudo que realmente me movia”, destaca a historiadora.
Em relação ao legado de Dulce, ela continua sendo uma voz forte nas arquibancadas do Vasco e em outros estádios do Brasil, recebendo reconhecimento em debates, homenagens e programas que mencionam seu nome. Daniela exprime seus sentimentos sobre esse legado.
R: “É complicado quantificar isso. A realidade mudou muito desde a era da Dulce. Naquela época, a torcida de um clube era representada por um grupo e seu líder. Atualmente, existem várias torcidas organizadas e movimentos nas arquibancadas.
Posso afirmar que o legado da Tia Dulce é simbolizado por cada mulher que batalha para conquistar seu espaço nas arquibancadas. Hoje, temos mulheres em diretorias de torcidas organizadas, grupos femininos e movimentos de vascaínas.”
E mulheres ocupando a presidência em outras torcidas de clubes também estão se tornando mais comuns. O impacto de Dulce vai além das rivalidades. Cada mulher nas arquibancadas carrega um pouco de sua história.
Embora a presença feminina nas embancadas tenha crescido, ainda é notório que os cargos de liderança nos clubes permanecem com pouca representação. Atualmente, temos apenas Leila Pereira, no Palmeiras, e Marianna Libano, no Coritiba. Daniela reflete sobre essa situação.
R: “O espaço disponível para torcer continua sendo uma luta constante. Não é incomum que mulheres torcedoras enfrentem assédio ou tenham que responder perguntas como ‘qual a escalação do Expresso da Vitória’ para validar sua paixão, ou ainda precisar esconder sua feminilidade ao torcer.
O equilíbrio ainda não foi alcançado nas arquibancadas, mas estamos progredindo.
Entretanto, em outros âmbitos, esse progresso é ainda mais lento. Até mesmo no futebol feminino, a participação feminina em posições de poder é rara. Pessoalmente, busco sempre encontrar o lado positivo. A trajetória da Leila, por exemplo, pode levantar questionamentos, mas é inegavelmente bem-sucedida. Ela representa a competência das mulheres no futebol.
Acredito que estamos em constante evolução. Lembro que costumava ligar a TV em canais esportivos e mal conseguia contar algumas mulheres em cena. Era impensável ter um jogo narrado por uma mulher.
Ainda temos que provar nosso valor duas vezes mais para ocupar e nos manter nesses espaços, mas já é possível trilhar um caminho menos solitário.”
Daniela reflete sobre como os clubes preservam seus legados
Historiadora e com uma trajetória diversificada, Daniela analisa como os clubes mantêm suas histórias vivas. O próprio Vasco possui um centro de memória, enquanto o Corinthians inaugurou um tour para mostrar sua história aos torcedores. No entanto, ainda há muito a ser feito.
R: “O Brasil tem uma relação difícil com sua história. Conhecemos muito pouco sobre figuras e eventos que moldaram nossa identidade. No âmbito do futebol, há um movimento em direção à preservação. Os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro possuem centros de memória. O Centro de Memória do Vasco é bem estruturado e recentemente anunciou um projeto focado nas torcidas. Esse é um caminho positivo.
Em outros países, existem vários museus de clubes que já receberam prêmios, como o Museu do Porto. Essas iniciativas devem ser exploradas mais amplamente e podem se tornar autossustentáveis, até mesmo gerar receitas para os clubes.
É fundamental também que os torcedores se envolvam. Visitar os clubes, valorizar sua história, e ter curiosidade são passos essenciais. Não se trata de “viver do passado”, mas sim de respeitar e celebrar tudo o que ocorreu, para que possamos saber como cobrar responsabilidades.”
Daniela analisa a visão da imprensa sobre torcidas
Historiadora, autora e comunicadora, Daniela oferece sua perspectiva sobre como a imprensa tradicional trata as torcidas, especialmente em contextos de celebração e conflito, destacando a falta de entendimento sobre as realidades das arquibancadas no Brasil.
R: “Dulce tem uma frase que destaquei no livro que diz que a imprensa e a torcida são os dois pilares mais importantes do futebol. Concordo plenamente. Esses dois elementos, embora não estejam em campo ou não possuam poder decisório nos clubes, são essenciais para o espetáculo.
Durante a pandemia, a ausência de torcedores em jogos deixou claro o quanto sua presença importa. O Vasco precisa de um São Januário vibrante. A mídia também precisa do entusiasmo das torcidas para completar o seu produto.
A conexão entre mídia e torcida é marcada por uma contradição. A presença da torcida é fundamental, mas a discussão ainda é superficial. Assim como qualquer relação humana, a dinâmica da torcida é complexa. Torcedores não são marginais ou vândalos, termos que costumam ser usados em situações de violência. Torcedores organizados são responsáveis pela festa, pela grandiosidade do espetáculo, e por diversas iniciativas sociais fora das arquibancadas.”
O livro que estará nas livrarias a partir do dia 25 de abril – Foto: divulgação
Realmente, existe um desconhecimento generalizado. Apesar de muitos pesquisadores estudando o tema, há poucos espaços na mídia para discussões profundas. É essencial reconhecer que a violência no esporte não é responsabilidade exclusiva dos torcedores. Para que possamos pensar em soluções eficazes, é necessário olhar para o papel de todos envolvidos. Muitas vezes, é mais fácil culpar os torcedores do que abordar a violência no esporte de maneira abrangente.”
Daniela compartilha sua experiência pessoal
Por fim, Daniela, autora do livro “Lugar de mulher é no futebol”, comenta sobre sua trajetória, objetivos e sua paixão pelo Vasco da Gama, além de deixar um convite para quem quiser conhecer seu trabalho e participar do lançamento.
R: “Sou jornalista, mestre em Comunicação e doutora em História. Tenho uma paixão pelo Vasco e pelas torcidas organizadas. Sempre escutava a pergunta: ‘O que o Vasco te trouxe?’.
Bom, o Vasco se tornou meu objeto de pesquisa e deu origem a este maravilhoso trabalho que estou lançando. Também me proporcionou uma família (casei e batizei minha filha mais nova no Vasco).
Gostaria muito de convidar todos os vascaínos para o lançamento do meu livro, no dia 25/04, que também é o dia do meu aniversário. O meu maior presente, neste ano, é poder honrar a memória de Dulce Rosalina e compartilhar um pouco da sua história com todos.
O livro está disponível para pré-venda no site. É um projeto ao qual dediquei muito carinho e que está incrível!”
Onde comprar o livro
https://www.editoramultifoco.com.br/shop/pre-venda-lugar-de-mulher-e-no-futebol-dulce-rosalina-a-primeira-lider-de-torcida-3553
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Fonte: R10 Score